As duas centrais sindicais, a UNTG e a CGSI, responsáveis pelo
movimento, falam em mais de 90 por cento de adesão à paralisação. Os
sindicalistas acusam o governo de transição de “falta de diálogo” e
consideram que a greve é uma “resposta” ao “sofrimento dos
trabalhadores”.
Este é um exemplo de que, no pequeno país Oeste-africano, considerado por alguns observadores um “narco-Estado” ou um “Estado falido”, o povo trabalhador continua, apesar das dificuldades do presente, a resistir à ditadura corrupta instaurada pelo golpe militar de 12 de Abril de 2012.
Ditadura, aliás, que merece o apoio da comunidade econômica dos Estados da África Ocidental, a Cedeao, em que pontificam a Nigéria – que procura travar a influência de Angola na sub-região – e países como o Senegal, a Costa do Marfim e Burkina Faso, tidos como pontas de lança dos interesses neocoloniais franceses.
Desde o golpe que derrubou o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC e vencedor da primeira volta das eleições presidenciais, processo então interrompido, as forças armadas e os seus chefes, o mais notório dos quais o general António Indjai, impuseram um presidente da República de “transição” e um governo de fachada, financiado pela Cedeao.
A cúpula militar guineense é acusada de saquear os cofres do depauperado Estado, de estar envolvida em toda a espécie de negociatas e de relacionar-se com traficantes de droga, de armas e, ultimamente, de redes de imigração ilegal.
Foi neste quadro que se registrou o recente episódio de um avião da TAP que, numa escala em Bissau, foi alegadamente forçado pelas autoridades locais a embarcar para Lisboa 74 passageiros sírios com passaportes falsos. Os refugiados, de origem curda, terão voado da
Turquia para a Guiné Bissau, passando por Casablanca, e entregado elevadas quantias a intermediários para viajar para Portugal e entrarem na “fortaleza” de Schengen.
O incidente provocou o pedido de demissão do ministro guineense dos negócios estrangeiros, o que é visto em Bissau como mais um sinal de desagregação do governo golpista, com o qual já raros aceitam ser conotados.
O próprio general Indjai é acusado pela Justiça dos Estados Unidos de ser um dos cabecilhas dos traficantes de droga que utilizam a Guiné Bissau como plataforma entre a América do Sul e a Europa. Um seu comparsa, o almirante Bubo Na Tchuto, então chefe da marinha de guerra guineense, foi há meses capturado numa operação no Atlântico envolvendo agentes norte-americanos e encontra-se preso em Nova Iorque a aguardar julgamento.
No plano político, sob a égide da “comunidade internacional”, foram marcadas – após vários adiamentos – eleições presidenciais e legislativas para 16 de Março de 2014 e decorre atualmente o recenseamento eleitoral.
O representante da ONU na Guiné Bissau, José Ramos Horta, reconhece que a situação de segurança se degradou nos últimos meses e que a situação social e humanitária é grave. Mas garante que a data das eleições “é imutável e inadiável” e que é uma “última oportunidade” do país para aceitar a ajuda da “comunidade internacional”.
O Nobel da Paz e antigo presidente de Timor – criticado por setores democráticos guineenses pela proximidade que mantém com líderes golpistas – acredita que é possível, com as eleições do próximo ano, conseguir, pacificamente, “o retorno à ordem constitucional”. E preconiza que, depois, as novas autoridades deveriam proceder à “reforma radical” das forças armadas e da administração pública, processo que duraria pelo menos cinco anos.
Para as presidenciais de 2014 – se chegarem a realizar-se –, perfilam-se dois candidatos principais. De um lado, Kumba Ialá, arvorado em “chefe” dos balantas (etnia de um terço da população) e tido como o mentor civil dos golpistas. Do outro lado, “Cadogo” Júnior, agora no exílio em Portugal, figura apoiada pelo PAIGC, hoje dividido em várias facções e que está muito distante do partido de Amílcar Cabral que dirigiu uma brilhante luta armada de libertação nacional.
Na Guiné Bissau, poucos acreditam que eleições em tais moldes ponham fim às sucessivas crises que afundam o país desde 1980, quando Nino Vieira estreou a senda dos golpes. E há cada vez mais setores a preconizar uma intervenção prolongada das Nações Unidas, a exemplo da que foi levada a cabo em Timor, como única via, a par da resistência popular, capaz de evitar o abismo.
Este é um exemplo de que, no pequeno país Oeste-africano, considerado por alguns observadores um “narco-Estado” ou um “Estado falido”, o povo trabalhador continua, apesar das dificuldades do presente, a resistir à ditadura corrupta instaurada pelo golpe militar de 12 de Abril de 2012.
Ditadura, aliás, que merece o apoio da comunidade econômica dos Estados da África Ocidental, a Cedeao, em que pontificam a Nigéria – que procura travar a influência de Angola na sub-região – e países como o Senegal, a Costa do Marfim e Burkina Faso, tidos como pontas de lança dos interesses neocoloniais franceses.
Desde o golpe que derrubou o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC e vencedor da primeira volta das eleições presidenciais, processo então interrompido, as forças armadas e os seus chefes, o mais notório dos quais o general António Indjai, impuseram um presidente da República de “transição” e um governo de fachada, financiado pela Cedeao.
A cúpula militar guineense é acusada de saquear os cofres do depauperado Estado, de estar envolvida em toda a espécie de negociatas e de relacionar-se com traficantes de droga, de armas e, ultimamente, de redes de imigração ilegal.
Foi neste quadro que se registrou o recente episódio de um avião da TAP que, numa escala em Bissau, foi alegadamente forçado pelas autoridades locais a embarcar para Lisboa 74 passageiros sírios com passaportes falsos. Os refugiados, de origem curda, terão voado da
Turquia para a Guiné Bissau, passando por Casablanca, e entregado elevadas quantias a intermediários para viajar para Portugal e entrarem na “fortaleza” de Schengen.
O incidente provocou o pedido de demissão do ministro guineense dos negócios estrangeiros, o que é visto em Bissau como mais um sinal de desagregação do governo golpista, com o qual já raros aceitam ser conotados.
O próprio general Indjai é acusado pela Justiça dos Estados Unidos de ser um dos cabecilhas dos traficantes de droga que utilizam a Guiné Bissau como plataforma entre a América do Sul e a Europa. Um seu comparsa, o almirante Bubo Na Tchuto, então chefe da marinha de guerra guineense, foi há meses capturado numa operação no Atlântico envolvendo agentes norte-americanos e encontra-se preso em Nova Iorque a aguardar julgamento.
No plano político, sob a égide da “comunidade internacional”, foram marcadas – após vários adiamentos – eleições presidenciais e legislativas para 16 de Março de 2014 e decorre atualmente o recenseamento eleitoral.
O representante da ONU na Guiné Bissau, José Ramos Horta, reconhece que a situação de segurança se degradou nos últimos meses e que a situação social e humanitária é grave. Mas garante que a data das eleições “é imutável e inadiável” e que é uma “última oportunidade” do país para aceitar a ajuda da “comunidade internacional”.
O Nobel da Paz e antigo presidente de Timor – criticado por setores democráticos guineenses pela proximidade que mantém com líderes golpistas – acredita que é possível, com as eleições do próximo ano, conseguir, pacificamente, “o retorno à ordem constitucional”. E preconiza que, depois, as novas autoridades deveriam proceder à “reforma radical” das forças armadas e da administração pública, processo que duraria pelo menos cinco anos.
Para as presidenciais de 2014 – se chegarem a realizar-se –, perfilam-se dois candidatos principais. De um lado, Kumba Ialá, arvorado em “chefe” dos balantas (etnia de um terço da população) e tido como o mentor civil dos golpistas. Do outro lado, “Cadogo” Júnior, agora no exílio em Portugal, figura apoiada pelo PAIGC, hoje dividido em várias facções e que está muito distante do partido de Amílcar Cabral que dirigiu uma brilhante luta armada de libertação nacional.
Na Guiné Bissau, poucos acreditam que eleições em tais moldes ponham fim às sucessivas crises que afundam o país desde 1980, quando Nino Vieira estreou a senda dos golpes. E há cada vez mais setores a preconizar uma intervenção prolongada das Nações Unidas, a exemplo da que foi levada a cabo em Timor, como única via, a par da resistência popular, capaz de evitar o abismo.
(Carlos L. Pereira, 26/12/2013)
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