Marco Carmignani diz que futuro do país está nas mãos dos guineenses. Ele está certo de que a Guiné-Bissau já fez boa parte do percurso rumo à estabilidade.
Em entrevista a DW Carmignani conta, na primeira pessoa, as expectativas que carrega na bagagem para a Guiné-Bissau, no seu mandato que começa nesta sexta-feira (04/07):
DW: Que situação o senhor encontrará hoje na Guiné-Bissau?
Marco Camignani (MC): Encontro a Guiné-Bissau, graças ao trabalho incansável do povo da Guiné-Bissau e do Dr. Ramos-Horta, de volta a ordem constitucional, as eleições foram realizadas num clima de paz e tranquilidade, os resultados foram aceites e as autoridades eleitas tomaram posse.
DW: Há uma proposta da ONU de uma espécie de partilha de poder no Governo da Guiné-Bissau. Agora com o novo Presidente da República acredita na criação de um Governo de inclusão ou coligação?
MC: É um decisão e prorrogativa do Governo da Guiné-Bissau. A comunidade internacional não impõe, a comunidade internacional apenas propõe, cabe apenas as autoridades soberanas de Bissau escolherem a composição do Governo que lhes seja apropriada. O que a ONU oferece é um canal para que as experiências vividas por outros países possam ser conhecidas e adaptadas a cada situação.
Trago comigo a experiência do Médio Oriente e outros países de África. Caberá a Guiné-Bissau decidir quais dessas experiências possam dar melhor uso ao país e entre elas se encontrarem.
DW: E como representante da ONU tende para algum lado, ou a criação de um Governo de inclusão ou de coligação?
MC: Como representante da ONU devo respeitar as autoridades e soberania de onde trabalho. É uma decisão que pertence inteiramente as autoridades da Guiné-Bissau decidirem como compor o novo Governo. A esperança que a comunidade internacional tem é que esse novo Governo sirva os interesses do povo da Guiné-Bissau.
DW: Nos últimos 7 anos serviu missões políticas nos países do Médio Oriente e antes disso trabalhou em escritórios em África. Como acha que a experiência ajudará a conduzir negociações de ajuda internacional na Guiné-Bissau?
MC: Existem similaridades e diferenças entre todas as regiões do mundo, não se pode transportar a experiência de um local, inteiramente, para outro sem se tomar em conta as diferenças culturais, económicas, desenvolvimento de cada país ou região.
DW: A reforma da segurança terá o apoio da ONU?
MC: Sem dúvida. E é uma reforma, como disse o Dr. Ramos-Hortas, que começa dentro da área de segurança. Tive o privilégio de estar com o Dr. Ramos-Horta nas últimas reuniões que conduziu em Bissau, antes de se deslocar para a sede da ONU em Nova Iorque. Ouvi com muita atenção os interlocutores militares e as posições colocadas pelo Dr. Ramos-Horta durante essas reuniões, e entre elas a prioridade que se dá a reforma que começa por dentro das Forças Armadas conduzida em parceria com o Governo eleito e certamente apoiadas pela comunidade internacional, incluindo a ONU.
DW: Todos sabemos que desde a independência da Guiné-Bissau nenhum Presidente conseguiu terminar um mandato. A ONU pode contribuir para que o Presidente Mário Vaz termine esse mandato?
MC: Acredito que o passado não pode ser mudado, o presente está nas mãos das pessoas que vivem na Guiné-Bissau e das autoridades que foram eleitas. Certamente a comunidade internacional vai apoiar o Governo eleito e o povo de Bissau para que a normalidade e estabilidade se retenham até a eleição por um Presidente e seguirá o mandato de José Mário Vaz.
DW: Qual é o papel de Angola e da CEDEAO no processo de governação e conciliação do país?
MC: A CEDEAO tem sido um parceiro de enorme importância para a Guiné-Bissau, ela continua a disponibilizar uma força de estabilização dentro do país até ao final do ano. A CEDEAO é um parceiro central para a mesa redonda que se irá organizar daqui até ao final do ano em apoio as actividades prioritárias para a Guiné-Bissau e acredito que essa parceria entre Bissau e CEDEAO vai continuar e vai fortalecer-se.
DW: Talvez a rota do narcotráfico seja o principal ponto na Guiné-Bissau. Como a ONU pode ajudar a afastar o país dessa rota, incluindo da exploração ilegal de madeira e outros recursos naturais?
MC: Não posso concordar que o principal ponto da Guiné-Bissau seja o narcotráfico, isso é um problema regional que existe noutros países, não é um problema central, um problema que os países daquela região tem de enfrentar e podem enfrentar de uma forma conjunta como vemos hoje na iniciativa regional. Existem outros grandes desafios a frente da Guiné-Bissau relacionados a área económica, emprego, educação, saúde e a exploração justa dos seus recursos naturais, inclusive as áreas de floresta e pesca.
DW: O Brasil vem estreitando relações com a Guiné-Bissau há alguns anos. Há inúmeros projectos de cooperação entre os dois países, como por exemplo o Centro de Formação Brasil Guiné-Bissau. A nomeação de um brasileiro para o cargo que representa, a ONU no país é mais um passo nessa direcção?
MC: Os laços entre Brasil e Bissau não dependem da nomeação de um representante adjunto pelas Nações Unidas para a Guiné-Bissau. Esses laços já existem há muito tempo e vão continuar a estreitar-se na consolidação da paz e progresso para o país. Fico muito honrado da decisão do secretário-geral de me nomear para essa função e fico satisfeito em voltar a trabalhar num país que compartilha o mesmo idioma. Fico muito grato pela hospitalidade, amizade e entrega aos seus visitantes, sejam eles brasileiros e de qualquer outra nacionalidade e ao grande apoio que as Nações Unidas têm recebido para o seu trabalho.
(in:dw.de)
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