Portugal está «na linha da frente da mitigação» da insegurança no golfo da Guiné, um problema que exige uma resposta internacional concertada e uma aposta na prevenção, defendeu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
O problema da segurança no golfo da Guiné, afetado por fenómenos de pirataria e de tráfico de droga, armas e seres humanos, está em debate esta sexta-feira em Lisboa, numa conferência internacional com mais de 180 participantes.
Na intervenção na abertura do encontro, o chefe da diplomacia portuguesa apontou alguns dos principais problemas que atingem a região e o impacto nos países vizinhos, entre os quais quatro lusófonos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe), mas também na União Europeia, desde logo devido à questão energética.
«A aposta deve incidir sobre a prevenção do fenómeno e não na reação a posteriori, muito mais cara e difícil, como sucedeu no golfo de Áden», disse o ministro, depois de considerar que a comunidade internacional acordou «demasiado tarde» para o fenómeno de pirataria naquela região.
Desta vez, no golfo da Guiné, «hoje e não amanhã é o momento certo para agir», sublinhou.
A resposta internacional exige «um passo em frente em matéria de cooperação, beneficiando das capacidades e experiência de todos» para contribuir «para a capacitação local e regional e para a preparação e dotação de meios eficazes que permitam enfrentar os desafios», sustentou.
Por outro lado, afirmou, a resposta deve ser «multisectorial e não incidir apenas na vertente de segurança ou militar», abrangendo a capacitação das polícias e dos sistemas judiciais locais, o apoio ao desenvolvimento económico e à criação de emprego na região e o incentivo à melhor exploração dos recursos marítimos.
«Não podemos esquecer que o Golfo da Guiné é atravessado por importantes rotas comerciais para o comércio internacional. Imagine-se o efeito devastador, para as nossas economias e para as nossas empresas, dos custos financeiros e logísticos decorrentes de um agravamento da segurança desta rota marítima», defendeu.
Um dos problemas deste fenómeno é a actuação de redes terroristas subsarianas nesta região, financiadas pelos tráficos, e que se infiltram nos grupos de imigrantes ilegais que alcançam a Europa, principalmente através da Líbia.
Há ainda a matéria energética, salientou: no ano passado, 44% do petróleo importado pela União Europeia teve origem nesta região e a «dependência está a aumentar».
O ministro evocou depois as várias frentes, no plano multilateral e bilateral, onde Portugal tem levantado esta problemática, concluído que o país está «na linha da frente operacional de mitigação deste fenómeno».
Também na mesma sessão, o chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, general Artur Pina Monteiro, considerou que Portugal, «em virtude das suas raízes históricas e culturais na região e da presença de uma diáspora significativa, deverá estar, como sempre esteve, disponível para dar o seu contributo, na medida das suas possibilidades».
«A solução para os problemas de segurança no golfo da Guiné passa por uma abordagem global das várias vertentes, envolvendo acções de âmbito político-diplomático, económico, científico-tecnológico e de defesa e segurança», defendeu o responsável, acrescentando que «o instrumento militar é certamente um dos factores da equação estratégica para ajudar a resolver as questões de segurança».
Pina Monteiro garantiu que as Forças Armadas portuguesas «possuem capacidades que podem ser muito úteis para afirmar Portugal como parceiro credível, designadamente no patrulhamento e vigilância aérea marítima, no quadro de participação em operações militares multinacionais, e no aprofundamento da cooperação militar, tendo em vista uma eventual capacitação das forças de segurança na região».
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