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Joseph Pulitzer

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Feira de drogas a céu aberto

Um aglomerado de homens, a maioria deles imigrantes do oeste e norte da África e muitos em situação ilegal, se reúnem em pequenos grupos em torno dos muitos bancos do Görlitzer Park, em Berlim. E os olhares significativos, que trocam com passantes locais e turistas bem informados, dizem uma coisa só: "Quer maconha? Venha falar comigo."


Os vendedores vêm de culturas onde o plantio e o consumo de maconha é comum e amplamente aceito, mesmo que sejam, formalmente, ilegais. Mas o produto vendido no parque é proveniente da Europa, e alguns se dizem decepcionados com sua qualidade.

"A maconha daqui não é a mesma que temos na África", explica Marwin*, um descolado músico poliglota da Guiné-Bissau. "A africana é muito mais forte."
 
À procura de amigos

Os varejistas do Görli tendem a se dividir por etnias. No dia da reportagem da DW, nas partes centrais do parque destacavam-se pessoas de Gâmbia e da Guiné-Bissau. Um grupo de marroquinos era elemento constante no banco da área noroeste do Görli, dominada por norte-africanos.

"A gente vem aqui para se encontrar com pessoas da nossa cultura, para falar nossas línguas e contar histórias", conta Marwin.

Diversos vendedores afirmaram não ter outra opção de emprego. Sem visto de residência, os imigrantes sem papéis não podem trabalhar. O risco de pesadas multas para quem emprega trabalhadores sem documentos desencoraja potenciais empregadores, conta o marroquino Ayoub.

"Todos nós esperamos encontrar mulheres com passaportes europeus para casar connosco", afirma Ayoub, enquanto os demais balançam a cabeça em sinal de anuência.

Uma vida na marginalidade

Ayoub e seus amigos não têm tido muita sorte com suas ambições matrimoniais. O mais velho do grupo já está na Europa há 23 anos; o outro, há 13, e Ayoub, há oito – e nenhum deles chegou a conseguir uma mulher europeia, documentos oficiais ou permissão de residência.

Anos atrás, eles entraram ilegalmente na Europa em contêineres, caminhões ou barcos. Desde então, não voltaram ao seu país natal. "Talvez não vamos poder mais retornar à Europa: a fronteira está mais apertada agora", diz Ayoub. "E no Marrocos não há trabalho, não há emprego", acrescenta um de seus amigos.

Também Marwin diz que havia pouco trabalho para que ele retornasse à Guiné-Bissau. "Todo africano aqui possui talvez dez familiares em casa dependendo de que ele envie algum dinheiro", relata.
 
Lidando com a polícia

No final do mês, não sobra muito dinheiro para os vendedores do Görli enviar para casa. "Ganhamos cerca de 20 ou 30 euros por dia vendendo por aqui, não mais do que isso", reclama Foday, um migrante de Gana. Ayoub apresenta estimativa similar. Embora a maconha seja vendida por 10 euros a grama, com tantos vendedores no Görli, a concorrência é dura e explica o baixo lucro dos varejistas.

A venda de maconha é ilegal na Alemanha, fato que não deverá sofrer alterações num futuro próximo. Para reduzir o risco de serem presos, os vendedores do Görli escondem o seu estoque na terra, em buracos pequenos e rasos, cavados em diversos lugares. E eles trabalham em equipe. Um porta-voz fala com os clientes, outros buscam os suprimentos ou ficam atentos às patrulhas policiais, que ocorrem diariamente.

Resultados modestos

Foday, Marwin e Ayoub, todos eles dizem que a polícia raramente coloca os vendedores de drogas sob custódia. "Se eles nos pegarem em posse [da droga], confiscam nosso dinheiro e todo o suprimento que temos connosco", disse Foday. "Depois dizem para gente desaparecer."

No caso de detenção, os policiais recolhem provas, incluindo drogas e o dinheiro que se presume ser a receita da venda, e escrevem um relatório de infração. Uma cópia desse relatório é dada à pessoa detida.

O que acontece a seguir depende do Ministério Público, que pode decidir entrar ou não com uma queixa. Se a mesma pessoa é detida repetidamente, a probabilidade de acusação aumenta. Mas mesmo se a Justiça considerar um imigrante sem documentação culpado da venda ilegal de drogas e ordenar-lhe deixar o país, isso não significa necessariamente que ele vai cumprir tal ordem. Um dos marroquinos diz ter passado três meses na prisão pela venda de drogas. Ao sair, pediram que ele deixasse o país. Mas ele não o fez.

Ayoub e seus amigos estão em Berlim há anos, vivendo à margem da sociedade sem visto de permanência – e há pouca razão para achar que isso vai mudar.

"Estamos aqui todos os dias", disse Ayoub. "Estamos sempre por aqui."

*Todos os nomes desta reportagem foram alterados pela redacção.

 


 

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