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Joseph Pulitzer

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

“PAIGC: Unidade, debate e participação política”


" PAIGC: Unidade, debate e participação política "


Da curta viagem feita ao pensamento ideológico de Amílcar Cabral, apraz-me partilhar convosco o que encontrei, dando assim o meu pequeno contributo sobre a actual fase da vida do PAIGC, cujo 8º Congresso Ordinário se inicia a 30 de Janeiro, em Cacheu.
Com a fundação em 1951 do Centro de Estudos Africanos em Lisboa, por Amílcar Cabral e outros jovens estudantes e nacionalistas africanos, tinha-se instalado os genes dos movimentos de Libertação que iriam levar as colónias portuguesas às respectivas independências.
Desde esse período, Amílcar Cabral se entregou à concepção de uma ideologia que suportasse a luta e balizasse a acção do PAIGC na organização e direcção da Luta de Libertação Nacional da Guiné e Cabo Verde. Para isso fez uso duma concepção neutra, entenda-se, de ordem ideológica, visando a definição de um pensamento e uma doutrina unitárias, tendo por essência a exaltação e valorização da cultura dos povos da Guiné e Cabo Verde.
Do ponto de vista estratégico, visava a luta que os destinos do povo fossem entregues ao povo nos respectivos territórios e que neles, livremente, construíssem o seu progresso e bem-estar. No entanto, era preciso materializar o processo que, invariavelmente, deveria passar por uma reflexão profunda, teórica e, sobretudo, através de estudos sobre o continente africano, perspectivando-o na óptica do modelo de desenvolvimento que melhor se aplicaria e se adequaria. Nesse percurso, Amílcar Cabral nunca admitiu as ideias como independentes da realidade histórica e social. Pelo contrário, assumiu que, na verdade, é a realidade que condiciona o forjar e compreensão das ideias.
Esta breve retrospectiva, nomeadamente sobre as opções metodológicas de Amílcar Cabral, tem dois propósitos básicos: 1) contribuir para a efectiva recuperação e consolidação da cultura cabralista de abordagem metodológica da realidade, visando o fortalecimento da unidade no seio do PAIGC e da sociedade; 2) fomentar a reflexão e debate no seio das massas e bases do partido, tendo em conta o papel do PAIGC na sociedade guineense.
Como princípio estruturante e essencial do PAIGC e da luta, Amílcar Cabral fez questão de referir e defender o da «Unidade e Luta». Ao explanar sobre isso disse, citamos: (…) podemos tomar unidade num sentido que se pode chamar estática, que não é mais que uma questão de número. (…) Essa é a unidade que nos interessa considerar no nosso trabalho, da qual falamos nos nossos princípios do Partido? É, e não é. É, na medida em que nós queremos transformar um conjunto diverso de pessoas, num conjunto bem definido, procurando um caminho. E não é, porque aqui não podemos esquecer que dentro desse conjunto há elementos diversos. Pelo contrário, o sentido de unidade que vemos no nosso princípio é o seguinte: quaisquer que sejam as diferenças que existem é preciso ser um só, um conjunto, para realizar um dado objectivo. Quer dizer, no nosso princípio, unidade é no sentido dinâmico, quer dizer de movimento”.
Durante toda a sua vida e combate, Amílcar Cabral educou os combatentes, conduziu o PAIGC e a luta na estrita observância desse conceito de unidade. O sucesso do PAIGC na condução da luta dos povos da Guiné e Cabo verde, que se traduziu na proclamação de dois Estados africanos, na segunda metade do Séc. XX, é superior a demonstração e confirmação da eficácia e inalterável pertinência do princípio de UNIDADE E LUTA.
Portanto, é minha firme convicção que, para o PAIGC em congresso e, a sociedade guineense, ansiosa e merecedora de um futuro de paz e progresso, Unidade e Luta é princípio incontornável e objectivo estratégico vital.
Entendo, ainda, partilhar o sentido responsável que julgo dever ocupar maior parte dos trabalhos e, também, que a questão ética e conduta política sejam sinónimos de seriedade e visão estratégica, pois o que importa é demonstrar que não se conseguem resolver os problemas do partido com base em divisões e rupturas no seu seio. A reengenharia de todo este processo deve ser bem orientada, não querendo com isso demonstrar uma mudança “radical” de actuação e de posicionamento político, mas, antes de mais, apelar à consciência dos congressistas para um projecto político mobilizador como garantia de um novo começo. Os valores, referências estáveis, coerência, competência e demonstração clara de uma parceria estratégica interna são importantes e devem ser tidos em conta neste processo tão importante para o partido.
A política é feita de pequenos detalhes e de ideias claras tendo sempre em atenção o alcance e a maturidade do pensamento ideológico que a suporta! LV
Lisboa, 29 de Janeiro de 2014.
Luís Vicente


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