" PAIGC: Unidade, debate e participação política "
Da curta viagem feita ao pensamento ideológico de
Amílcar Cabral, apraz-me partilhar convosco o que encontrei, dando
assim o meu pequeno contributo sobre a
actual fase da vida do PAIGC, cujo 8º
Congresso Ordinário se inicia a 30 de Janeiro, em Cacheu.
Com a fundação em 1951 do Centro de Estudos Africanos
em Lisboa, por Amílcar Cabral e outros jovens estudantes e
nacionalistas africanos, tinha-se instalado os genes dos movimentos
de Libertação que iriam levar as colónias portuguesas às
respectivas independências.
Desde esse período, Amílcar Cabral se entregou à
concepção de uma ideologia que suportasse a luta e balizasse a
acção do PAIGC na organização e direcção da Luta de Libertação
Nacional da Guiné e Cabo Verde. Para isso fez uso duma concepção
neutra, entenda-se, de
ordem ideológica, visando a definição de um pensamento e uma
doutrina unitárias, tendo por essência a exaltação e valorização
da cultura dos povos da Guiné e Cabo Verde.
Do ponto de vista estratégico, visava a luta que os
destinos do povo fossem entregues ao povo nos respectivos territórios
e que neles, livremente, construíssem o seu progresso e bem-estar.
No entanto, era preciso materializar o processo que, invariavelmente,
deveria passar por uma reflexão profunda, teórica e, sobretudo,
através de estudos sobre o continente africano, perspectivando-o na
óptica do modelo de desenvolvimento que melhor se aplicaria e se
adequaria. Nesse percurso, Amílcar Cabral nunca admitiu as ideias
como independentes da realidade histórica e social. Pelo contrário,
assumiu que, na verdade, é a realidade que condiciona o forjar e
compreensão das ideias.
Esta breve retrospectiva, nomeadamente sobre as opções
metodológicas de Amílcar Cabral, tem dois propósitos básicos: 1)
contribuir para a efectiva recuperação e consolidação da cultura
cabralista de abordagem metodológica da realidade, visando o
fortalecimento da unidade no seio do PAIGC e da sociedade; 2)
fomentar a reflexão e debate no seio das massas e bases do partido,
tendo em conta o papel do PAIGC na sociedade guineense.
Como princípio estruturante e essencial do PAIGC e da
luta, Amílcar Cabral fez questão de referir e defender o da
«Unidade e Luta». Ao explanar sobre isso
disse, citamos:
(…) podemos tomar unidade num
sentido que se pode chamar estática, que não é mais que uma
questão de número. (…) Essa é a unidade que nos interessa
considerar no nosso trabalho, da qual falamos nos nossos princípios
do Partido? É, e não é. É, na medida em que nós queremos
transformar um conjunto diverso de pessoas, num conjunto bem
definido, procurando um caminho. E não é, porque aqui não podemos
esquecer que dentro desse conjunto há elementos diversos. Pelo
contrário, o sentido de unidade que vemos no nosso princípio é o
seguinte: quaisquer que sejam as diferenças que existem é preciso
ser um só, um conjunto, para realizar um dado objectivo. Quer dizer,
no nosso princípio, unidade é no sentido dinâmico, quer dizer de
movimento”.
Durante toda a sua vida e combate, Amílcar Cabral
educou os combatentes, conduziu o PAIGC e a luta na estrita
observância desse conceito de unidade. O sucesso do PAIGC na
condução da luta dos povos da Guiné e Cabo verde, que se traduziu
na proclamação de dois Estados africanos, na segunda metade do Séc.
XX, é superior a demonstração e confirmação da eficácia e
inalterável pertinência do princípio de UNIDADE E LUTA.
Portanto, é minha firme convicção que, para o PAIGC
em congresso e, a sociedade guineense, ansiosa e merecedora de um
futuro de paz e progresso, Unidade e Luta é princípio incontornável
e objectivo estratégico vital.
Entendo, ainda, partilhar o sentido responsável que
julgo dever ocupar maior parte dos trabalhos e, também, que a
questão ética e conduta política sejam sinónimos de seriedade e
visão estratégica, pois o que importa é demonstrar que não se
conseguem resolver os problemas do partido com base em divisões e
rupturas no seu seio. A reengenharia de todo este processo deve ser
bem orientada, não querendo com isso demonstrar uma mudança
“radical” de actuação e de posicionamento político, mas, antes
de mais, apelar à consciência dos congressistas para um projecto
político mobilizador como garantia de um novo começo. Os valores,
referências estáveis, coerência, competência e demonstração
clara de uma parceria estratégica interna são importantes e devem
ser tidos em conta neste processo tão importante para o partido.
A política é feita de pequenos detalhes e de ideias
claras tendo sempre em atenção o alcance e a maturidade do
pensamento ideológico que a suporta! LV
Lisboa, 29 de Janeiro de 2014.
Luís Vicente
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