Em declarações à imprensa à margem da I Conferência Internacional Sobre Políticas de Drogas nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que terminou Quinta-feira na cidade da Praia, em Cabo Verde, Luis Vaz Martins defendeu que a situação vigente fica a dever-se à fragilidade das instituições, agravada pela situação política que o país vive devido à permanente interferência dos militares.
“As
instituições são frágeis e há um problema de responsabilização, não só
no que se refere a crimes relacionados com o narcotráfico como no que
toca aos de motivação política, nomeadamente homicídios” pontuou aquele
activista social.
Na interpretação de Luis Vaz Martins, essa
realidade “tornou-se mais evidente desde o Golpe de Estado (ocorrido a
12 de Abril de 2012)”, mas a esperança, perspectiva, é que esses
problemas se resolvam com o regresso do país à normalidade a partir das
eleições previstas para 16 de Março do corrente ano.
O povo não merece
“Sabemos
que o que se está a passar em relação ao narco-tráfico na Guiné-Bissau
ocorre a um nível macro, mas entendemos que apelidar o país de
narco-Estado não é a melhor forma de resolver o problema porque, ao
fazê-lo, estamos a criar mais problemas que o próprio narcotráfico”,
defendeu o presidente da LGDH.
Em jeito de chamada de atenção
visando contrariar a estigmatização de que considera estar o seu país a
ser vítima, Luís Vaz Martins entende que é necessária prudência na
identificação e designação de certos fenómenos, uma vez que, na sua
opinião, o povo guineense não merece o sofrimento porque está a passar.
“Toda a sociedade guineense está a lutar para que a problemática da
droga seja abordada sob outros ângulos, uma vez que o país, com as
instituições que tem, passa por uma fase bastante delicada que está a
ser aproveitada pelos barões da droga”, referiu.
Neste ponto, o
presidente da LGDH voltou a invocar a questão da ausência de
responsabilização daqueles que se dedicam ao narco-tráfico, promovida,
na sua leitura, por pessoas que “assaltaram os poderes cimeiros da
República e os órgãos de decisão para institucionalizarem o negócio
criminoso da droga”.
“Acredito que esta é apenas uma fase que a
Guiné-Bissau está a atravessar e que vai ultrapassar assim que se
normalize a situação política, mas em circunstância alguma aceitamos o
termo narco-Estado para designar a o nosso país”, enfatizou.
De
qualquer forma, na opinião de Luís Vaz Martins, as implicações do
fenómeno do narco-tráfico na vida dos cidadãos guineenses são evidentes e
graves, afectando de forma negativa a observância dos direitos humanos
naquele país.
“O tráfico de drogas tem contribuído negativamente
para a afirmação da democracia e esteve presente no último Golpe de
Estado” afirma peremptoriamente o activista dos Direitos Humanos,
considerando que “quando, devido ao narco-tráfico, não consegue
afirmar-se e criar condições de bem-estar, realizar a justiça em nome do
povo e garantir a segurança dos cidadãos, essa criminalidade está a
conduzir o Estado ao falhanço.
A omnipresença dos militares
Essa
é a situação concreta que a Guiné-Bissau está a viver, diz o presidente
da LGDH, que atribui as responsabilidades, não apenas aos autores do
Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 como, igualmente, aos militares
que, no passado, estiveram na base de outros momentos de instabilidade
política que o país viveu.
“Acreditamos que essa é a realidade
porque a Guiné-Bissau fez um percurso muito complicado na sua ascensão à
independência, tendo o seu território sido palco de uma luta de
libertação muito renhida que não lhe permitiu preparar-se para uma boa
transição”, defendeu Luís Vaz Martins, lembrando que tanto nessa fase
como depois da independência e posteriormente, foram os militares que
sempre dirigiram o país.
A omnipresença dos militares no poder na
Guiné-Bissau é algo que não pode ser negado, segundo aquele activista
dos Direitos Humanos, que destaca o longo período, de quase duas décadas
de liderança, de Nino Vieira e, após o golpe que o depôs, a
interferência permanente e activa dos homens dos quartéis, “que se
assumem como donos da história”, na vida política do país.
“Por
isso, pensamos que os militares têm uma forte quota de responsabilidade,
se bem que tendo contado sempre com a cumplicidade de uma classe
política pobre e sem argumentos que lhes permite ter uma posição muito
nefasta de per- turbação da vida pública na Guiné- Bissau” afirma Luís
Vaz Martins.
Processo anormal
O presidente da LGDH
comentou igualmente, “com preocupação”, a morosidade e a desorganização
que tem marcado o processo de recenseamento eleitoral de cidadãos
guineenses que está a decorrer, nomeadamente em Cabo Verde, tendo em
vista a constituição dos cadernos para as eleições de Março próximo.
Luís
Vaz Martins enalteceu o forte interesse que os seus conterrâneos estão a
manifestar em relação ao recenseamento e às consequentes eleições,
afirmando esperar que essas expectativas não fiquem frustradas pelos
constrangimentos que se vêm registando.
O esforço da representação
consular da Guiné-Bissau em Cabo Verde no sentido de levar o
recenseamento a outros pontos do arquipélago, apesar de só dispor de um
kit, também foi destacado como “positivo” pelo presidente da LGDH, que
receia, no entanto, que um número significativo de potenciais eleitores
fique por recensear.
“Todo este processo, mesmo ao nível do
território da Guiné-Bissau, está a funcionar com uma certa anormalidade
porquanto se tinha previsto 21 dias para o recenseamento mas foi
necessário, no entanto, alargar o prazo”, indicou Luís Vaz Martins, para
quem o prazo suplementar pode não ser suficiente para recensear todos
os 800 mil potenciais eleitores guineenses.
As consequências
poderão vir a ser uma nova dilatação do prazo de recenseamento e o
consequente adia- mento das eleições, na perspectiva do activista
guineense, para quem
o principal resultado seria a perpetuação do regime militar vigente na Guiné-Bissau.
“É
uma situação que nos preocupa imenso porque é urgente pôr um ponto
final neste clima de ditadura militar que se tem vivido, marcado por
perseguições, restrições às liberdades civis fundamentais, nomeada-
mente de manifestação e expressão, espancamentos de cidadãos e,
inclusivamente, assassinatos, além da inoperância absoluta do aparelho
do Estado”, conclui Luís Vaz Martins.
(in: o pais)
(in: o pais)
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