O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) considerou hoje que os militares assumem-se, "de forma algo paternalista", como "donos da História e do presente" na Guiné-Bissau, contando com uma classe política "muito pobre" para dominar o país.
Falando aos jornalistas à margem da 1.ª Conferência Internacional sobre
Políticas de Drogas nos Países Africano de Língua Oficial Portuguesa
(PALOP), que termina hoje na Cidade da Praia, Luís Vaz Martins
considerou que esta situação leva a que a classe castrense guineense não
queira largar o poder.
"A Guiné-Bissau passou por um período complicado para ser independente,
tendo como palco o seu próprio território. Não houve preparação para a
fase de transição. Acredito que os militares sempre dirigiram o país,
numa primeira fase, às vezes com vestes civis, como foi o caso de Nino
Vieira, que foi um militar", explicou.
"Esta assunção, de uma forma algo paternalista da parte dos militares
que não querem largar o poder, que se assumem como donos da história e
do presente da Guiné-Bissau, tem contribuído de forma muito negativa
para que o país não seja um verdadeiro Estado de direito democrático",
sublinhou o presidente da Liga.
"Os militares têm responsabilidades, se bem que contaram sempre com uma
classe política muito pobre, sem argumentos, que fez desta posição dos
militares uma posição muito nefasta na perturbação da vida pública do
país, uma realidade que temos vivido até aqui", acrescentou.
Evitando relacionar diretamente a manutenção dos militares na esfera do
poder com o tráfico de droga e recusando a ideia de que o país é um
narcoestado, Vaz Martins admitiu, porém, que a "fragilidade" dos órgãos
de poder tem permitido aos "barões da droga" instalarem-se na
Guiné-Bissau, onde a responsabilização é inexistente.
"As instituições são frágeis e há um problema de responsabilização, não
só dos crimes de narcotráfico, mas também de crimes de homicídios e de
natureza política, ou seja, as instituições judiciais não funcionam
porque há uma influência da crise política dentro das outras
instituições", explicou.
"Hoje, mais do que nunca, com o golpe de Estado (de 12 de abril de
2012), esta realidade tornou-se mais evidente. Creio que tudo se
resolverá com a normalização da situação política (as eleições gerais
estão previstas para março) e que, com a cooperação entre os Estados
vítimas do narcotráfico, haverá mais possibilidades de a Guiné-Bissau
sair dessa situação de país frágil", referiu.
Para Vaz Martins, o epíteto de "narcoestado" utilizado pela comunidade
internacional para caracterizar a Guiné-Bissau "cria mais problemas ao
país do que a droga", salientando não ser essa a melhor maneira de
resolver os problemas.
"Às vezes, nessa lógica de aceder aos meios financeiros para resolver os
problemas, não somos muito prudentes para arranjar designações para
determinados fenómenos. Toda a sociedade civil guineense está a lutar
para que a questão da droga seja abordada por um outro ângulo. É uma
fase muito delicada a que passa o país e, face às instituições que tem,
os barões da droga aproveitam-se", sustentou.
"Ao normalizar-se a situação, vai resolver-se o problema da
responsabilização dos elementos que assumiram ou assaltaram os poderes
cimeiros da República para fazer do negócio da droga uma espécie de
institucionalização desta prática criminosa", referiu Vaz Martins.
"É apenas uma fase menos boa e que, com a normalização da vida política,
será ultrapassada. Mas de forma nenhuma aceitamos o termo narcoestado",
frisou.
Para Vaz Martins, o narcotráfico na Guiné-Bissau "tem contribuído negativamente" para a afirmação da democracia.
"Está e esteve presente no golpe de Estado (de 2012) e quando o Estado
não consegue criar condições de bem-estar à população, quando não
consegue realizar a justiça em nome do povo, quando não consegue criar
as condições de segurança, o Estado está a falhar nas três dimensões",
concluiu.
Deixemos de ser hipócritas, sejamos humildes, falemos verdade, porque, todos nós sabemos que, infelizmente o nosso país é um narco-estado, só temos que aceitar e pedir ajuda à aqueles que nos possam ajudar a sair desta triste situação.
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