A escolha que perspectiva o futuro para a Nação
“Não
fazem parte da nação aqueles que apenas falam a mesma língua, ou
que apenas professam a mesma religião, mas aqueles que partilham um
processo evolutivo histórico comum e que por isso partilham uma
identidade que daí resultou.”
Ter
as bases para a construção de uma Nação forte e coesa significa
ter sentido de responsabilidade no exercício do poder, possuir
maturidade cívica, política e democrática, assumir e comprometer a
estratégia partidária com a identidade nacional. Este facto
observa-se tanto na escolha das lideranças partidárias como também
na selecção dos projectos políticos que garantem uma visão e um
objectivo estratégico congruente com os caminhos que a própria
Nação pretende seguir.
Antes
de mais, quando abordo o conceito “Nação” faço-o partindo do
pressuposto que, como é costume alocar, uma nação é uma
comunidade que partilha uma língua, uma cultura, uma identidade
material, uma história comum de luta pela sobrevivência e
perpetuação ao longo dos tempos. É uma comunidade que partilha um
conjunto de valores que são intuitivos, normas não-verbais que
resultaram de séculos de identificação e comunhão na luta pela
preservação e continuidade da comunidade. Não fazem parte da nação
aqueles que apenas falam a mesma língua, ou que apenas professam a
mesma religião, mas aqueles que partilham um processo evolutivo
histórico comum e que por isso partilham uma identidade que daí
resultou. Essa identidade foi construída ao longo da evolução de
um povo pela partilha da mesma luta de sobrevivência e perpetuação,
aqueles que se deslocaram para o mesmo espaço e aí construíram a
sua civilização, aqueles que passaram pelas mesmas lutas, que
estiveram sujeitos às mesmas dificuldades, que construíram um
código de comportamento similar. Portanto, a Nação, como
alguém um dia disse, é acima de tudo um sentimento de pertença
natural e de identificação histórica.
Esta
nota introdutória é apenas para alertar sobre o processo de reforço
da unidade nacional alcançado durante a luta de libertação, em
torno de um projecto de coesão e de construção da Nação que,
agora, sofre de robustez na sua essência e enfrenta desafios e
contingências de várias ordens, sendo uma das mais visíveis a sua
própria identidade.
O
que me apraz referir é que não se concebe a manutenção dessa
identidade e reforçar a coesão nacional com base em boatos,
intrigas, calunias, divisões, compromissos antecipados, estratégias
eleitoralistas e confrontos vis-à-vis. Entendo que a Nação é
superior a tudo isso, não podendo a mesma confundir-se com as
frustrações pessoais de cada um de nós.
Neste
momento da vida nacional é possível assistir, com algum pesar,
disputas eleitorais e posicionamentos no campo da estratégia
política, desde a observância estrita do comportamento individual
como da assunção de um projecto de liderança partidária. Sobre
este aspecto gostaria apenas de alertar para o facto de que o
maquiavelismo político é de uma forma tão violenta que é capaz de
minar os sonhos de uma Nação e, com as garras de aço, destruir os
anseios de um povo.
Talvez
seria necessário, neste momento, dar algum relevo a discussão em
torno de um projecto Nação, que se inicia nas bases dos partidos e
atravessa toda a sociedade civil, não imiscuindo, como é óbvio, o
compromisso de afirmação da causa nacional.
Não
quero com isto afirmar que não é vital discutir a refundação do
Estado, partidos políticos e/ou administração pública. Mas, antes
de mais, torna necessário autonomizar os conceitos e dar o
tratamento que cada um merece em dado tempo, através da definição
dos objectivos e visão estratégica que se pretende para o País,
pois acontece que o Estado e Nação não só não são coincidentes
como são muitas vezes conceitos antagónicos.
Portanto,
condicionar a discussão simplesmente partidária e na vertente de
uma disputa eleitoral com o objectivo único de administrar o
aparelho de Estado (entenda-se governo) sem contudo observar as
estratégias e a forma do exercício do poder tendo em conta o
conceito “Nação”, é um erro grave.
Na
verdade, uma verdadeira Nação, como é hábito referir, não
necessita de instituições jurídicas que a mantenham unida, pois os
seus membros sentem-se parte do mesmo legado e pretendem um futuro
comum, daí entender ser necessário um debate aprofundado em torno
da ideologia e da identidade nacional, neste momento em que o País
se encontra com sérios riscos de divisão no seu seio.
Portando,
talvez seja necessário repensar o papel dos vários players,
entenda-se candidatos às eleições gerais (legislativas e
presidenciais) e direccionar o debate para uma participação
política mais responsável e coerente, onde a competência,
seriedade e honestidade sejam condições primárias e de acordo com
os reais interesses da Nação.
Obviamente
que não se pode escolher quem deve ou não participar na democracia,
porque isso é limitar o exercício da participação política que o
País tanto carece. Mas, convenhamos que o elevado número de
candidatos às presidenciais e partidos políticos às legislativas,
que têm surgido de alguns anos a esta parte, a maioria não
contribui em grande medida para o processo de discussão que se
pretende em torno do projecto Nação, tendo em conta os princípios
programáticos que defendem, as suas lideranças e as bases
ideológicas em que se assentam. Contudo, sobre os partidos políticos
e suas lideranças é importante aflorar a verdadeira dimensão dos
seus projectos e condicionalismos democráticos na participação e
no diálogo nacional.
Tal
como iniciei concluo insistindo no debate em torno do projecto Nação
e coesão nacional, acreditando piamente que a única forma do País
se alavancar, tendo em conta os atuais desafios, é através de uma
liderança forte, mobilizadora, responsável e com sentido de Estado.
Acrescento,
humildemente, que é hora de pararmos a prática de capelas vazias
que caracterizam as nossas disputas estéreis e antagonismos que
quase sempre se traduziram em discussões improdutivas e inúteis. É
hora de implementação de mecanismos de discussão e aprofundamento
do diálogo responsável, da participação política e da integração
harmoniosa de todos filhos e filhas a viverem dentro e fora do país.
É
importante ter presente que grandes feitos foram conquistados do que
parecia impossível, como bem dizia Mahatma Gandhi! LV
Lisboa,
23 de Janeiro de 2014.
Luís
Vicente
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