“O poder, a cidadania e a difícil tarefa de governar”
Às vezes, vêm-me à memória algumas reflexões do escritor, poeta e dramaturgo alemão “Bertolt Brecht” sobre a “Dificuldade de Governar”, que reside no facto do exercício da governação ser tão difícil pelo facto da exploração e a mentira são coisas que custam a aprender.
Assim,
tentei elaborar um pequeno ensaio e fazer breve paralelismo entre os
conceitos “poder, cidadania e governação”
para melhor proceder a análise construtiva sobre o nosso País e, a
partir disso, reforçar a componente da participação cívica como
ferramenta de alavancagem democrática de que tanto carecemos, tendo
em conta as diversas esferas do poder “Estado,
administração Pública e órgãos de soberania”.
Ora,
como nos ensina “António Houaiss”, governar é
exercer autoridade soberana sobre outrem; controlar e dirigir a
formulação e a administração da política; administrar ou
influenciar as ações e o comportamento de algo.
E, acrescenta-se, melhorar continuamente a
qualidade de vida dos cidadãos em todas as áreas, desde a educação
até ao emprego, da saúde ao ambiente, da segurança até à
justiça, etc.
Na
verdade, se olharmos à nossa volta, de há 40 anos para cá,
constatamos que algo falhou e continua a falhar porque o exercício
do poder e da governação, duas
dimensões totalmente distintas, apresentam erros de conceção,
tanto na essência como no conteúdo.
No
caso da dimensão “poder”,
auxilio-me do entendimento que o “Max Weber” atribui a este
conceito, tal como, “poder não deve ser
visto como imposição de vontade, manipulação ou dominação.
Daí que, numa democracia, como é lógico, são os cidadãos que
fornecem o poder às
leis e consequentemente aos políticos e servidores públicos que são
investidos com poder
pela lei (neste caso através de atos eleitorais).
Contudo,
no nosso País, invariável e lamentavelmente, somos confrontados com
o exercício de poder e da imposição de
vontade, manipulação ou dominação que,
aliás, imiscui na esfera do Estado e administração pública, sendo
talvez a componente política e “político-militar”
fatores que mais contribuem para a observância desse fenómeno. Ou
seja, em certa medida, os governantes e a autoridade têm, de alguma
forma, negligenciado a estrita observância do verdadeiro sentido do
poder tal como ele deveria ser exercido, ou seja, para
o bem de uma comunidade que carece das decisões que são emanadas
através dessa autoridade.
Da
justeza dos factos, julgo que não é demais salientar que a política
não se restringe apenas ao campo institucional estatal, como também
permeia outras atividades da vida quotidiana e, como bem observa Max
Weber, “não se deve conceber que a fonte
do poder político é unicamente o Estado, pois existem relações de
poder em qualquer relação de interesses entre dois ou mais
sujeitos, sejam eles pessoas ou entidades”.
Neste
campo em concreto, colocam-se de forma pragmática as questões da
cidadania, ética e responsabilidade.
Ou seja, a ética consiste em discernir o que é certo do que é
errado e agir de acordo com o que é correto. Compreende o
compromisso pessoal consigo e com os outros (casos em que se aplica o
Estado, governo, sociedade e atores políticos). A
Ética é um convite à liberdade e responsabilidade das pessoas.
Aprende-se e é transmitida pela cultura, pelos valores dominantes da
sociedade.
O
governo dá lugar à governação, que coloca a tónica na cidadania
redefinindo fronteiras entre o Estado e a Sociedade, sendo valorizada
a participação ativa desta para enfrentar os desafios da
governação, nomeadamente a legitimação do poder das autoridades
públicas. Os governos tomam consciência de
que não podem conduzir e implementar políticas, por muito boas que
sejam, se os cidadãos não as entenderem e apoiarem.
Portanto, exercer a cidadania não
significa estender o braço para que o governo faça de patriarca ou
senhor, os dominados os súditos, é ir
mais além. Ou seja, exercer a cidadania de forma responsável
sabendo que lhe assiste direitos e deveres que obrigam a sua
condição.
Na
verdade, todo o cidadão tem o direito e dever de tomar parte na vida
política e na direção dos assuntos políticos do seu país,
diretamente ou por intermédio de representantes, livremente eleitos,
o direito de ser esclarecido objetivamente sobre os atos do Estado e
demais entidades públicas e de ser informado pelo governo e outras
autoridades acerca da gestão dos assuntos públicos, etc. Estes
direitos e garantias de participação política visam concretizar,
no plano político, o direito constitucional elevado à categoria de
direito fundamental, o direito à Cidadania.
Portanto,
ao governante
espera-se honestidade e direção na condução dos assuntos do País
em prol do bem comum. O poder
espera-se que seja exercido com clareza e sentido de responsabilidade
e, ao cidadão,
espera-se que toma o seu lugar na exigência do que é melhor para o
País, que seja frontal no debate e no cumprimento do seu dever. Por
último, espera-se que a democracia seja reforçada e consolidada
tendo em conta os conceitos poder, cidadania e
governação. As eleições que se avizinham
é um bom exercício para o efeito.
Assim,
mais do que nunca, é necessária a união, mas a união baseada
sobre a disciplina, sem a qual nada pode manter-se. É indispensável
que se ponham de lado vaidades pessoais e ambições individuais, e
que se convençam que a Pátria corre os mais sérios perigos. Hoje,
já não é uma questão só de Causa,
é uma questão de Salvação Nacional!
LV
Lisboa,
10 de Janeiro de 2014.
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