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Joseph Pulitzer

sábado, 26 de abril de 2014

AFRICOM - Intervenções dos EUA em África partirão dos Açores

Uma singela notícia da Lusa revela que o congressista norte-americano Devin Nunes dá praticamente como certo que a as instalações militares das Lajes, nos Açores, utilizadas pelo Pentágono, serão a "base avançada" do AFRICOM, o comando operacional dos Estados Unidos para África, isto é, o principal instrumento de intervenção e agressão norte-americana no continente. Quarenta anos depois do 25 de Abril, a notícia passa como se fosse coisa de pouca monta.


O que é o AFRICOM? É um produto da reestruturação e do desenvolvimento do poder militar dos Estados Unidos da América no mundo criado já este século e que a Administração Obama tem acarinhado particularmente. Citando as normas constituintes, o AFRICOM existe com o objecivo de "contribuir para assegurar a segurança e a estabilidade em África". Já em 2008, o vice-almirante Robert Moeller, voz autorizada do Pentágono em conferências promovidas pela Secretaria da Defesa, esclareceu que a tarefa do AFRICOM é "promover o fluxo livre de recursos naturais de África para o mercado global". Como a certa altura se levantaram dúvidas sobre a natureza do comando para África, uma vez que o seu responsável terá afirmado que a sua acção nada tinha a ver com recursos naturais e exploração económica, o mesmo vice-almirante Moeller esclareceu em 2010: "O objectivo do AFRICOM é proteger as vidas dos americanos e promover os interesses americanos".

É disso que se trata agora que as instituições norte-americanas pretendem reformular o AFRICOM em termos

económicos e estratégicos quando se fala da instauração da sua "base avançada" nas Lajes, com "prontidão 24 horas por dia" a um nível muito elevado, segundo admitem fontes do Pentágono.

"Quando se falou da intervenção da NATO na Líbia quase passou despercebido que a parte norte-americana dessa guerra foi realizada através do AFRICOM", revela um diplomata de um país da NATO em missão em Bruxelas. "Na verdade, o AFRICOM é a imagem da ampliação do espaço de intervenção norte-americana em África, como podemos ver desde a Etiópia, à Somália, Sul do Sudão, Uganda, Tanzãnia, República Centro Africana, Mali e o mais que adiante se verá, sem esquecer a operação de imagem, na procura de boa fama, que foi a realização de exercícios a partir de Cabo Verde", acrescentou o diplomata.

O AFRICOM tem estado baseado na Alemanha, de onde o Pentágono vem realizando realizado algumas das execuções extra-judiciais de supostos "terroristas" no Norte de África através da cada vez mais frequente utilização de voos sem piloto, os drones. Citações atribuídas pela Lusa ao staff de do congressista Devin Nunes, identificado como tendo ascendência açoriana, explicam que a reestruturação do AFRICOM implica a transferência de importantes estruturas logísticas da Alemanha para os Estados Unidos, com poupança de "muitos milhões de dólares" e criação de postos de trabalho (em território norte-americano), e a instalação da "base avançada" do comando na base das Lajes, na Ilha Terceira, a que irá juntar-se uma Task Force da Aviação actualmente instalada na base espanhola de Morón de La Frontera.

Dez anos depois da cimeira acolhida por Durão Barroso, então primeiro ministro português, e na qual Bush, Blair e Aznar institucionalizaram a mentira como pretexto para uma guerra - a invasão do Iraque - a Base das Lajes, em território de Portugal, pode tornar-se um centro permanente de agressão contra o continente africano.

O silêncio do governo português perante estas notícias levanta questões de dignidade nacional e de constitucionalidade, revela cumplicidades com os círculos mais agressivos do neocolonialismo, e atinge as relações entre Portugal e países africanos, que Lisboa diz serem importantes.

"Não é só este governo portugês que assim se comporta", afirmou o diplomata em serviço na NATO em Bruxelas. "Tornou-se rotina entre os governos das últimas décadas deixar a utilização das Lajes ao livre arbítrio dos Estados Unidos, o que não acontece em mais nenhum país da aliança onde o Pentágono dispõe de bases", acrescentou. "E os americanos aproveitam", rematou.

(por: José Goulão, Pilar Camacho, em Bruxelas, Martha Ladesic, em Nova York)
(in: jornalistas sem fronteiras)
 

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