Fora de controle, desmatamento na Guiné-Bissau é milionário
COMEÇA A FICAR TARDE PARA TRAVAR ESTA DEVASTAÇÃO DESCONTROLADA E UM ATENTADO CONTRA O POVO DA GUINÉ-BISSAU, QUE VIRÁ A SOFRER A BREVE PRAZO EM CONSEQUÊNCIA DESTE CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE.
SIMULTANEAMENTE O PAÍS ESTÁ POSSIVELMENTE A SER LUDIBRIADO NESTA "ACTIVIDADE MADEIREIRA"
Imagens de hoje da companhia FOLBI que atribuiu sub-concessões aos operadores asiáticos.
O fenômeno cresceu desde o golpe militar de abril de
2012. As comunidades das aldeias atingidas condenam, mas preferem se
calar. Espalha-se o medo de represálias por parte de quem está por trás
do crime ecológico.
* O embaixador da China na Guiné-Bissau, Yan Banghua, disse que o país não
faz negócios ilegais com o país africano, respeita as leis e mantém boa
cooperação com o Governo local. O representante do secretário-geral da
ONU, José Ramos-Horta, visitou um local onde as madeiras estão sendo
cortadas. Ele disse acreditar que a comunidade internacional vá se
levantar contra os crimes ambientais.
* O principal alvo desse negócio milionário é o pau-de-sangue – uma árvore
de grande porte, que pode chegar a 30 metros de altura. Conforme
informações levantadas por ativistas junto à alfândega chinesa, cada
contêiner com troncos dessa árvore vale o equivalente a 17,7 mil euros.
Os troncos das árvores são descascados e alocados dentro dos contentores
antes de serem exportados.
* Impotência nas tabancas e aldeias. Os moradores acreditam que o desmatamento causa a falta de chuvas.
"Somos agricultores e um agricultor sem chuva não pode produzir", disse
um agricultor de Bafatá. Ele levou a reportagem até uma área onde havia
restos dos troncos que foram carregados em contentores dias antes.
"Houve protestos, mas agora as pessoas estão sendo ameaçadas. Ninguém
mais fala sobre isso", diz.
* Os guineenses jamais viram tantos troncos sendo retirados de suas
florestas quanto no primeiro semestre de 2014. Conforme dados levantados
por ambientalistas locais através de conexões com diferentes alfândegas
no estrangeiro, 750 contentores oriundos do porto de Bissau entraram na
China no período. A estimativa, porém, é de que 150 contentores saiam
por semana de janeiro a junho de 2014.
* Mão de obra jovem. Ambientalistas e moradores das tabancas identificam a presença de jovens
guineenses e dos países vizinhos no corte ilegal da madeira. Conforme
informações colhidas pela reportagem da DW África, cidadãos da Guiné
Conacry e Gâmbia são atraídos pela oferta de trabalho. Caminhões
oriundos destes países também foram identificados nas tabancas.
* A DW África levantou o esquema de aluguel de licenças para cidadãos
comuns chegarem às tabancas com documentação para apresentar aos
moradores. Desta forma, não havia resistência para a extração e
transporte dos troncos. Para participar do negócio de corte e venda de
madeira, era necessário pagar para o dono de uma licença e também pagar
os cortadores. Apenas 14 serrações são licenciadas no país.
* Uma fonte da reportagem diz que a venda de dois contêineres de madeira
garante o sustento de uma família por alguns meses. "Muitos que entraram
no negócio irregular estão ricos", diz. Para ele, o corte ilegal está
tão elevado devido ao momento que o país vive. "Não há controle, não há
Estado. Só quem tem uma madeireira pode conseguir essa licença. Mas
agora todo mundo está no mato", salienta.
* A DW África apurou que, em 2010, saíram 15 contentores com madeira do
porto de Bissau, Em 2013, o número chegou a 409 – aumento de quase 30
vezes em três anos. O movimento de caminhões foi constante em Bissau
durante o período pré-eleitoral, quando a DW África documentou o
fenômeno. Ativistas escreveram um panfleto anônimo com dados sobre a
exportação. A mídia local deixou de falar do assunto.
Fotografias ainda do sector de Xitole, onde se podem
verificar vários pontos de armazenamento. Começa a tornar-se evidente
que este nível de organização é claramente concertado com alguns agentes
de autoridade.
(fotos: várias fontes)
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