Grupo confessou ao SEF que documentos foram comprados a uma rede de imigração ilegal e que objectivo era chegar à Alemanha. Este ano já tinha sido detectada situação semelhante no aeroporto com outros 30 sírios
Os
refugiados sírios que chegaram anteontem a Portugal com passaportes
falsos confessaram às autoridades portuguesas que pagaram cinco mil
dólares por cada documento a uma rede de imigração ilegal. Segundo uma
fonte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), os 74 sírios
compraram um "pacote" que incluía os falsos passaportes - de agentes do
Estado turco - e guias para terem acesso ao território da União
Europeia. De acordo com a mesma fonte, a intenção do grupo seria chegar a
Portugal e, uma vez no espaço Schengen, viajar até à Alemanha. A
escolha dos passaportes turcos terá tido unicamente a ver "com a
existência de semelhanças físicas entre os nacionais dos dois países".
Portugal transformou-se, no último meio ano, numa plataforma
privilegiada para o acesso a países da Europa a partir de países como o
Mali, a Guiné-Bissau ou a Turquia. E o método utilizado por este grupo
não é inédito: já este ano, em Abril, tinham sido detectados outros 30
sírios no aeroporto de Lisboa, com documentos falsos e também
provenientes da Guiné-Bissau. "Começa a ser recorrente e estas rotas
estão a tornar-se problemáticas", avisa uma outra fonte do SEF.
Ontem, a TAP decidiu mesmo suspender a ligação entre a capital da
Guiné e Lisboa, por razões de segurança (ver texto secundário). O SEF já
tinha, aliás, reforçado o controlo de passageiros nesta rota por,
segundo a mesma fonte, ser "usada por redes de narcotráfico da América
do Sul e fazer passar mulheres exploradas sexualmente, em redes de
prostituição, em vários países europeus".
Da Turquia a Lisboa Segundo
o SEF, a rede de imigração ilegal terá guiado o grupo pela Turquia,
onde embarcou num voo que fez escala em Marrocos. Só depois rumou à
Guiné-Bissau - onde terá tentado pedir asilo. No entanto, e como i adiantou
na edição de ontem, o pedido foi negado e o comandante do voo TP 202 da
TAP acabou por ser "coagido" a trazer os passageiros para Lisboa. A
entrada do oficial de ligação do SEF no aeroporto terá sido barrada
momentos antes da partida e só quando o avião sobrevoava Madrid é que as
autoridades portuguesas foram contactadas pela TAP sobre a existência, a
bordo, de passageiros com documentação falsa.
Contudo, o SEF guineense já negou que tenha sido detectada qualquer anomalia no aeroporto de Bissau.
Ainda na Guiné, o grupo ficou alojado durante cerca de 18h em dois
hotéis da capital - onde fizeram check-in ainda com passaportes sírios,
entre as 2h e as 2h25 da madrugada de segunda-feira. Segundo fontes
locais contactadas pela Lusa, os refugiados apresentaram-se como
turistas e foram transportados por um guineense - que terá pago a conta
das estadias - até ao aeroporto de Bissau. Uma funcionária de um dos
hotéis contou que no grupo havia uma grávida que precisou de ser
assistida numa clínica em Bissau. Já à chegada a Lisboa, a mesma mulher
foi internada no Hospital de Santa Maria devido a uma hemorragia.
Colónia balnear recebe refugiados Ao
início da tarde de ontem, ainda continuavam no aeroporto da Portela dez
dos 74 sírios. A Segurança Social (SS) confirmou entretanto que está a
acolher os refugiados e a avaliar a "caracterização individual e
familiar" de cada um. Os 51 adultos e 23 menores estão a ser
encaminhados para instalações da Santa Casa da Misericórdia e outros
espaços, como a colónia balnear "O Século" em São Pedro do Estoril.
Também ontem, a presidente do Conselho Português para os Refugiados
(CPR), Teresa Tito Morais, confirmou à Lusa o pedido de asilo a Portugal
e adiantou que os sírios vão ficar no país até que esteja concluído o
processo de estatuto de refugiados. "Pode demorar um ou dois meses. Vão
começar a ser ouvidos para se perceber os motivos [da vinda para
Portugal] e depois será emitida uma decisão. Para já, foram admitidos e
depois vamos ver se têm acesso ao estatuto de refugiado", acrescentou a
responsável, que classificou o caso de "inédito".
(in: jI - Rosa Ramos)
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