O Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau, Abdu Mané, afirmou hoje que tem sido alvo de ameaças na sequência de investigações abertas pelo Ministério Público ao caso do embarque forçado num voo da TAP de 74 sírios para Portugal.
"Quer dizer eu, que não embarquei ninguém, nem sei se são sírios ou
se são turcos, sou ameaçado. Agora eu é que sou responsável, quando não
envergonhei a República", disse Abdu Mané.
O Procurador guineense reagia desta forma à queixa-crime apresentada
na segunda-feira pelo advogado do ministro do Interior do Governo de
transição, António Suca Ntchama, no Supremo Tribunal de Justiça contra
Abdu Mané por alegada difamação ao governante.
O advogado de Suca Ntchama quer que o Supremo Tribunal aja
criminalmente contra o procurador por considerar que este incorreu no
crime de violação de segredo de justiça e de difamação por ter dito que o
ministro se teria recusado a ser detido.
"Isso não passa de um 'fait divers'. Dizer com pompa e circunstância
que há uma queixa-crime contra o Procurador não passa de um 'fait
divers', é tentar fazer com que as pessoas se distraiam dos factos
reais", disse Abdu Mané.
O procurador guineense acrescentou que se for chamado pelo Supremo
Tribunal irá responder por não se sentir acima da lei, mas não entende a
ação intentada pelo ministro quando foi o próprio Governo quem
denunciou o envolvimento de Suca Ntchama no embarque forçado de 74
sírios no avião da TAP, a 10 de dezembro.
"Perante este facto, o que é que a Procuradoria-Geral da República
deve fazer senão continuar com as investigações. Foi o que se fez. Não
tenho muita coisa a dizer", disse Mané, reafirmando que existe um
mandado de condução do ministro às celas que o diretor-geral da Polícia
Judicia se teria recusado a cumprir.
O Procurador-Geral guineense reuniu-se hoje com o presidente da
Assembleia Nacional Popular, Sori Djaló, a quem disse ter mostrado o
mandado de detenção que o ministro Suca Ntchama alega que não existe.
"Tudo isso é fazer tempestade num copo de água. Não retiro nem uma
vírgula. Enquanto eu for Procurador-Geral da República quem cometer um
crime será responsabilizado", sublinhou Abdu Mané.
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