O ex-ministro do Negócios Estrangeiros português António Monteiro afirmou hoje que a comunidade internacional deve ser “cada vez mais dura” com os militares da Guiné-Bissau, considerando que as eleições não são suficientes para normalizar o país.
“As eleições não são claramente suficientes para normalizar a
situação na Guiné-Bissau, mas são um passo. Já houve eleições antes e
vimos o que é que se seguiu”, disse o embaixador, em entrevista à
agência Lusa a propósito da IV cimeira UE/África, a 02 e 03 de abril, em
Bruxelas.
A Guiné-Bissau realiza eleições legislativas e presidenciais a 13 de
abril próximo, que marcam o fim do período de transição que se seguiu ao
golpe de Estado de 12 de abril de 2012.
“A forma como se deram os golpes, com o que se seguiu aos golpes e o
que continua a acontecer prova que os responsáveis atuais da
Guiné-Bissau precisam perceber que o mundo está em cima deles e não
estarem convencidos que como são pequeninos ninguém lhes presta atenção e
que há ali uma oportunidade de se desenvencilharem da violência com
impunidade porque ninguém liga”, disse.
António Monteiro referiu que os “militares recalcitrantes” continuam
“a cometer abusos” e que, por isso, “a comunidade internacional deve ser
cada vez mais dura”.
Neste sentido, defendeu um envolvimento cada vez maior de
organizações como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
que deve ter a Guiné-Bissau “como o seu caso número um”.
Outra medida que o ex-ministro defendeu é o combate ao narcotráfico:
“Sabemos que é daí que vem o dinheiro, que depois serve para comprar e
espancar (pessoas)”, disse, defendendo que “a impunidade tem de acabar”.
A Guiné-Bissau, tal como a República Centro-Africana, palco de
violentos confrontos entre cristãos e muçulmanos, não foi convidada a
participar na cimeira de Bruxelas.
António Monteiro disse que entende as medidas punitivas, mas defendeu
que a cimeira deve dar atenção aos países. “Deve até redobrar a
atenção, porque deve dar um sinal aos povos desses países de que não
estão fora dos radares e um sinal para os regimes”.
“A Guiné tem de ser seguida atentamente, dar sinais de que estas
eleições têm de ir para a frente, ser tão livres quanto possível e os
resultados só devem ser reconhecidos em função da garantia de que são a
expressão da livre vontade dos cidadãos”, disse, elogiando “a coragem”
de candidatos como Domingos Simões Pereira, ex-secretário executivo da
CPLP e de outros que já desempenharam cargos em instituições
internacionais “e que podem ajudar o seu país”
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