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Joseph Pulitzer

terça-feira, 1 de abril de 2014

Manifesto do "Movimento Cantanhez"


 

Movimento Cantanhez


Todo o ser humano deveria nascer livre, ter a possibilidade de usufruir de direitos civilizacionais conquistados pela humanidade e almejar realizar-se enquanto indivíduo, e indivíduo inserido numa sociedade ou nação.
Durante cinco séculos o Homem guineense viu-se privado do mais elementar dos direitos – o direito de ter uma pátria sua e o inerente sonho de construir a sua nação. Foram cinco séculos de incontáveis batalhas, de luta e resistência contra o opressor colonial.
O projecto político liderado por Amílcar Cabral foi o culminar de todo um processo de luta e resistência pela emancipação dos povos da Guiné e, sedimentou no guineense a ideia e o sonho de nação. 

Um princípio fundamental da nossa luta é que a nossa luta é a luta do nosso povo, e o nosso povo é que tem que a fazer, e o seu resultado é para o nosso povo.” – Amílcar Cabral. 

Traíram o grande sonho de Amílcar Cabral: unidade, luta e progresso. 

A nossa Guiné Bissau, a do povo, vive uma circunstância especial que foi sendo cozinhada desde a gloriosa independência conquistada com suor, sangue e lágrimas e, cujo resultado, tornou-se deveras indigesto para toda uma nação que se pretendia construída em bases sólidas de progresso e liberdade.
Ao longo destes anos, fomos sendo desgovernados por um sistema de base militar com cariz altamente opressivo, coadjuvados por indivíduos sem escrúpulos que se fazem passar por políticos, mas com a única intenção de permanecer no poder e consequentemente explorar até à exaustão os recursos naturais e financeiros do país. Como se tal despatriotismo não bastasse para aplacar definitivamente a ganância generalizada, motivada pelo protagonismo governativo, a Guiné-Bissau tornou-se palco de espectáculos degradantes que se traduzem em círculos viciosos de sucessivos golpes de estado, assassinatos, guerra civil, em corrupção como divisa de governo, em desvios de fundos públicos, em fomentar de divisões étnicas, em miséria e desestruturação social, em abuso de poder, em narcotráfico envolvendo agentes do arco do poder ao ponto da Guiné-Bissau ser apelidado por alguns países como sendo um “narco-estado”, e consubstanciando tremendas violações de Direitos Humanos, enquanto os nossos concidadãos assistem, indefesos, o seu triste calvário. Hoje ninguém tem dúvidas de que a Guiné caminha no sentido oposto ao progresso da humanidade. Todos os índices de desenvolvimento humano o confirmam.

E, no caos reinante na Guiné-Bissau, é de todo pertinente referir que não existem dois ou mais lados da barricada; existe sim um só Sistema fragmentado que nos quer obrigar a escolher entre as partes fragmentadas, porém, nós queremos escolher o futuro e escolhemos ficar do lado do nosso povo. Queremos um povo digno, culto e próspero, queremos liberdade e justiça, pressupostos em que não acreditamos de exequibilidade possível visto que o sistema não pode ser réu e juiz de si próprio com o agravante de ninguém confiar em ninguém nas actuais lideranças político-militares que sequestraram a liberdade do tão sofrido povo guineense. Substituíram o projecto-Nação pela agenda tribal e desmantelaram o Estado. São eles o verdadeiro problema, não a solução!
Esta camada de pseudo-políticos tem a audácia de parasitar o aparelho de Estado, viver de expedientes, semear o caos e extrair vergonhosamente dividendos à custa de apoios da Comunidade Internacional dos quais o fenómeno eleitoral é um paradigma. Mais de três dezenas de partidos políticos para tão diminuto eleitorado! Cria-se partido político (geralmente, de base étnica) para sorver dinheiro e bens públicos. Na Guiné-Bissau, as eleições são festas para os pseudo-políticos sorverem dinheiro em nome da democracia que juram professar e cujos valores renegam de seguida no rescaldo do mesmo plebiscito, uma vez sorvido o dinheiro e enchido os bolsos. E por ai vai, no país do caos, golpe após golpe de Estado, eleições após eleições, farsa após farsa, até ao descrédito total no mundo.
A Guiné da Constituição, um Estado de direito, é o oposto do país real! 

Como muitos guineenses, acreditamos que os dados do jogo democrático na Guiné-Bissau estão lançados, e não há retorno; o nosso caminho, a nossa opção é democracia ou... democracia! Uma democracia que não se resume à deposição de votos nas urnas e, pasme-se, constantemente sobressaltada pela força das armas desvirtuadoras da vontade popular. Este facto, de tão repetitivo que tem sido, prova que algo ou alguém, ao contrário do cívico povo guineense, não está preparado para o jogo democrático.
A comunidade internacional não pode continuar a disponibilizar ajudas que, paradoxalmente, fragmentam e acentuam as clivagens na sociedade guineense. Quem garante que as próximas eleições serão livres, justas e democráticas? Quem garante que não haverá mais golpes de Estado após investimento de milhões de dólares em eleições, num país que precisa de dinheiro como de pão para a boca?
Mais: o problema da Guiné-Bissau não se circunscreve apenas a Guineenses também um problema regional e internacional, tendo em conta os acontecimentos dos últimos anos que foram elencados em inúmeros relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) que vincula a Guiné-Bissau como trânsito acessível do tráfico de droga para Europa e, concomitantemente, as suas autoridades, alertando para a necessidade conjunta da Comunidade Internacional envidar os esforços no sentido de combater intransigentemente o tal flagelo ameaçador de vidas humanas. 

Acresce ainda o facto de, no ano passado, o Departamento de estado dos Estados Unidos da América, ter acusado formalmente altas patentes militares e civis Guineenses de conspirarem contra os EUA, designadamente através da venda de armas aos terroristas com o intuito de atacar os americanos, bem como introduzir drogas naquele País. Isto é apenas um conjunto de coisas, para não falar das reiteradas violações de direitos fundamentais dos Guineenses, razão pela qual entendemos ser pertinente a actuação concertada da Comunidade Internacional para fazer cumprir a ordem e o estado de Direito Democrático que tanto almejam os Guineenses.
Para além da falta de segurança, liberdade de expressão, cuidados básicos de saúde, escola, etc., as novas preocupações do povo são a devastação descontrolada da floresta de riqueza singular, a pesca descontrolada nas águas territoriais nacionais, o saque de areia das praias paradisíacas e o instigar de conflitos tribais. A Guiné conta com cerca de 20 etnias, vivendo numa harmonia secular. 

Esta é a nossa pátria amada!
Num mundo impregnado de cultura democrática, rejeitamos todas as formas de opressão, autocracia, tribalismo ou despotismo. Contra a incompetência! 

Assim, considerando os argumentos expostos e baseados na infeliz experiência democrática do povo guineense; inspirados em experiências bem sucedidas noutras partes do mundo nomeadamente, no universo lusófono, o caso de Timor Leste; e convictos de que a insistência no erro poderá desencadear convulsões sociais de tipo guerra civil ou étnica, mais golpes de Estado ou algo como, no mínimo, baralhar para ficar tudo na mesma, vimos pela presente anunciar a solução que preconizamos para alterar a situação de estagnação da Guiné-Bissau: a criação de um movimento cívico de salvação do povo guineense com o objectivo de requerer, junto aos órgãos competentes das Nações Unidas, um regime de tutela internacional do país sob a autoridade da organização, por um período de tempo necessário para a refundação do Estado e para a credibilização das instituições da república e, finalmente, promover o tão adiado desenvolvimento económico e social. 

Caro concidadão, se consegue existir para além do horizonte da sua etnia; se for daqueles que percebe e compreende que somos muitos povos mas uma só nação; e se ainda for daqueles que sentem a Guiné como um todo identitário e a amam como a uma mãe que sofre às mãos de filhos desnaturados, então esta iniciativa é e será objectivamente para si.
Aos traidores da Pátria vendidos aos interesses obscuros e inconfessáveis; aos pseudo-políticos narcisistas, aos oportunistas fagocitados pela corrupção, aos parasitas, aos indiferentes de ontem e de hoje estampamos uma ilustração final daquele que foi e será sempre um simples africano...

Sou um simples africano que quis saldar a sua dívida para com o seu povo e viver a sua época...”
(...) jurei a mim mesmo que tenho que dar a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a minha capacidade que posso ter como homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo-Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é o meu trabalho.”
(Amílcar Cabral - Fundador da Nacionalidade Guineense)

Será um movimento não só de guineenses e dos que amam a Guiné, mas também de todos os cidadãos do mundo que prezam os valores da paz e da estabilidade como alicerces para a construção de um Estado de direito efectivo ao serviço do bem-estar dos seus cidadãos.
Somos Homens livres sem qualquer filiação partidária ou a mando interesses obscuros e inconfessáveis; o único condutor que aceitamos nesta caminhada é a voz da nossa própria consciência.
Cientes da atenção que esta iniciativa certamente merecerá, agradecemos- lhe antecipadamente, e aguardamos com grande expectativa pela sua adesão.

Com melhores cumprimentos,

 Os membros fundadores,

Domingos Gomes, Paris
Inácio Semedo, Coimbra
Silvano Tavares, Lisboa
Térsio Vieira, Lisboa
José Aimé, Lisboa
Braima Mané, Bruxelas


 (NOTA: a imagem é somente para ilustrar este post, por iniciativa do editor)

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