Movimento Cantanhez
Todo o ser
humano deveria nascer livre, ter a possibilidade de usufruir de
direitos civilizacionais conquistados pela humanidade e almejar
realizar-se
enquanto indivíduo, e indivíduo inserido numa
sociedade ou nação.
Durante
cinco séculos o Homem guineense viu-se privado do mais elementar dos
direitos – o direito de ter uma pátria sua e o inerente sonho de
construir a sua nação. Foram cinco séculos de incontáveis
batalhas, de
luta e resistência contra o opressor colonial.
O projecto
político liderado por Amílcar Cabral foi o culminar de todo um
processo de luta e resistência pela emancipação dos povos da Guiné
e,
sedimentou no guineense a ideia e o sonho de nação.
“Um
princípio fundamental da nossa luta é que a nossa luta é a luta
do nosso povo, e o nosso povo é que tem que a fazer, e o seu
resultado é para o nosso povo.” – Amílcar Cabral.
Traíram o
grande sonho de Amílcar Cabral: unidade, luta e progresso.
A nossa
Guiné Bissau, a do povo, vive uma circunstância especial que foi
sendo cozinhada desde a gloriosa independência conquistada com
suor,
sangue e lágrimas e, cujo resultado, tornou-se deveras
indigesto para toda
uma nação que se pretendia construída em
bases sólidas de progresso e
liberdade.
Ao longo
destes anos, fomos sendo desgovernados por um sistema de base
militar com cariz altamente opressivo, coadjuvados por indivíduos
sem
escrúpulos que se fazem passar por políticos, mas com a única
intenção de
permanecer no poder e consequentemente explorar até à
exaustão os
recursos naturais e financeiros do país. Como se tal
despatriotismo não
bastasse para aplacar definitivamente a ganância
generalizada, motivada
pelo protagonismo governativo, a Guiné-Bissau
tornou-se palco de
espectáculos degradantes que se traduzem em
círculos viciosos de
sucessivos golpes de estado, assassinatos,
guerra civil, em corrupção como
divisa de governo, em desvios de
fundos públicos, em fomentar de divisões
étnicas, em miséria e
desestruturação social, em abuso de poder, em
narcotráfico
envolvendo agentes do arco do poder ao ponto da Guiné-Bissau
ser
apelidado por alguns países como sendo um “narco-estado”, e
consubstanciando tremendas violações de Direitos Humanos, enquanto
os
nossos concidadãos assistem, indefesos, o seu triste calvário.
Hoje ninguém tem dúvidas de que a Guiné caminha no sentido oposto
ao
progresso da humanidade. Todos os índices de desenvolvimento
humano o
confirmam.
E, no caos
reinante na Guiné-Bissau, é de todo pertinente referir que não
existem dois ou mais lados da barricada; existe sim um só Sistema
fragmentado que nos quer obrigar a escolher entre as partes
fragmentadas,
porém, nós queremos escolher o futuro e escolhemos
ficar do lado do nosso
povo. Queremos um povo digno, culto e
próspero, queremos liberdade e
justiça, pressupostos em que não
acreditamos de exequibilidade possível
visto que o sistema não
pode ser réu e juiz de si próprio com o agravante
de ninguém
confiar em ninguém nas actuais lideranças político-militares que
sequestraram a liberdade do tão sofrido povo guineense.
Substituíram
o projecto-Nação pela agenda tribal e desmantelaram
o Estado. São eles o
verdadeiro problema, não a solução!
Esta camada
de pseudo-políticos tem a audácia de parasitar o aparelho de
Estado, viver de expedientes, semear o caos e extrair
vergonhosamente
dividendos à custa de apoios da Comunidade
Internacional dos quais o
fenómeno eleitoral é um paradigma. Mais
de três dezenas de partidos
políticos para tão diminuto
eleitorado! Cria-se partido político
(geralmente, de base étnica)
para sorver dinheiro e bens públicos. Na Guiné-Bissau,
as eleições são festas para os pseudo-políticos sorverem
dinheiro em nome da democracia que juram professar e cujos valores
renegam de seguida no rescaldo do mesmo plebiscito, uma vez sorvido
o
dinheiro e enchido os bolsos. E por ai vai, no país do caos,
golpe após golpe
de Estado, eleições após eleições, farsa após
farsa, até ao descrédito total
no mundo.
A Guiné da
Constituição, um Estado de direito, é o oposto do país real!
Como muitos
guineenses, acreditamos que os dados do jogo democrático
na
Guiné-Bissau estão lançados, e não há retorno; o nosso caminho,
a
nossa opção é democracia ou... democracia! Uma democracia que
não se
resume à deposição de votos nas urnas e, pasme-se,
constantemente
sobressaltada pela força das armas desvirtuadoras da
vontade popular. Este
facto, de tão repetitivo que tem sido, prova
que algo ou alguém, ao
contrário do cívico povo guineense, não
está preparado para o jogo
democrático.
A comunidade
internacional não pode continuar a disponibilizar ajudas que,
paradoxalmente, fragmentam e acentuam as clivagens na sociedade
guineense. Quem garante que as próximas eleições serão livres,
justas e
democráticas? Quem garante que não haverá mais golpes de
Estado após
investimento de milhões de dólares em eleições, num
país que precisa de
dinheiro como de pão para a boca?
Mais:
o
problema
da
Guiné-Bissau
não
se
circunscreve
apenas
a
Guineenses também um problema regional e internacional, tendo em
conta os acontecimentos dos últimos anos que foram elencados em
inúmeros relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) que
vincula a
Guiné-Bissau como trânsito acessível do tráfico de
droga para Europa e,
concomitantemente, as suas autoridades,
alertando para a necessidade
conjunta da Comunidade Internacional
envidar os esforços no sentido de
combater intransigentemente o tal
flagelo ameaçador de vidas humanas.
Acresce
ainda o facto de, no ano passado, o Departamento de estado dos
Estados Unidos da América, ter acusado formalmente altas patentes
militares e civis Guineenses de conspirarem contra os EUA,
designadamente
através da venda de armas aos terroristas com o
intuito de atacar os
americanos, bem como introduzir drogas naquele
País. Isto é apenas um
conjunto de coisas, para não falar das
reiteradas violações de direitos
fundamentais dos Guineenses,
razão pela qual entendemos ser pertinente a
actuação concertada
da Comunidade Internacional para fazer cumprir a
ordem e o estado de
Direito Democrático que tanto almejam os Guineenses.
Para além
da falta de segurança, liberdade de expressão, cuidados básicos
de saúde, escola, etc., as novas preocupações do povo são a
devastação
descontrolada da floresta de riqueza singular, a pesca
descontrolada nas
águas territoriais nacionais, o saque de areia
das praias paradisíacas e o
instigar de conflitos tribais. A Guiné
conta com cerca de 20 etnias, vivendo
numa harmonia secular.
Esta é a
nossa pátria amada!
Num mundo
impregnado de cultura democrática, rejeitamos todas as
formas de
opressão, autocracia, tribalismo ou despotismo. Contra a
incompetência!
Assim,
considerando os argumentos expostos e baseados na infeliz experiência
democrática do povo guineense; inspirados em experiências
bem
sucedidas noutras partes do mundo nomeadamente, no universo
lusófono, o caso de Timor Leste; e convictos de que a insistência
no erro
poderá desencadear convulsões sociais de tipo guerra civil
ou étnica, mais
golpes de Estado ou algo como, no mínimo, baralhar
para ficar tudo na
mesma, vimos pela presente anunciar a solução
que preconizamos para alterar a
situação de estagnação da Guiné-Bissau: a criação de um
movimento cívico de salvação do povo guineense com o objectivo de
requerer, junto aos órgãos competentes das Nações Unidas, um
regime de tutela internacional do país sob a autoridade da
organização, por um período de tempo necessário para a
refundação
do Estado e para a credibilização das instituições
da república e,
finalmente, promover o tão adiado desenvolvimento
económico e
social.
Caro
concidadão, se consegue existir para além do horizonte da sua
etnia;
se for daqueles que percebe e compreende que somos muitos
povos mas
uma só nação; e se ainda for daqueles que sentem a
Guiné como um todo
identitário e a amam como a uma mãe que sofre
às mãos de filhos
desnaturados, então esta iniciativa é e será
objectivamente para si.
Aos
traidores da Pátria vendidos aos interesses obscuros e
inconfessáveis;
aos pseudo-políticos narcisistas, aos oportunistas
fagocitados pela
corrupção, aos parasitas, aos indiferentes de
ontem e de hoje estampamos
uma ilustração final daquele que foi e
será sempre um simples africano...
“Sou um
simples africano que quis saldar a sua dívida para com o
seu povo e
viver a sua época...”
“ (...)
jurei a mim mesmo que tenho que dar a minha vida, toda a
minha
energia, toda a minha coragem, toda a minha capacidade que posso ter
como homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na
Guiné e Cabo-Verde. Ao serviço da causa da humanidade,
para dar a minha contribuição, na medida do possível,
para a vida
do homem se tornar melhor no mundo. Este é o meu
trabalho.”
(Amílcar
Cabral - Fundador da Nacionalidade Guineense)
Será um
movimento não só de guineenses e dos que amam a Guiné, mas
também
de todos os cidadãos do mundo que prezam os valores da paz e da
estabilidade como alicerces para a construção de um Estado de
direito
efectivo ao serviço do bem-estar dos seus cidadãos.
Somos Homens
livres sem qualquer filiação partidária ou a mando
interesses
obscuros e inconfessáveis; o único condutor que aceitamos nesta
caminhada é a voz da nossa própria consciência.
Cientes da
atenção que esta iniciativa certamente merecerá, agradecemos-
lhe
antecipadamente, e aguardamos com grande expectativa pela sua
adesão.
Com melhores
cumprimentos,
Os membros fundadores,
Domingos Gomes, Paris
Inácio Semedo, Coimbra
Silvano Tavares, Lisboa
Térsio Vieira, Lisboa
José Aimé, Lisboa
Braima Mané, Bruxelas
(NOTA: a imagem é somente para ilustrar este post, por iniciativa do editor)
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