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Joseph Pulitzer

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Politicamente (in)correcto; Nelsom Mandela

Com o desaparecimento físico de Mandela, assistimos todos e todos os dias aos mais difíceis actos de contorcionismo político e social. 




Desde há muito que as palavras tolerância, apaziguamento e boa vontade não eram ditas e proclamadas até à exaustão. Na verdade, e de forma geral, quando, após muita luta, sacrifício, assassinatos, torturas, prisões, etc., os povos se libertam é muito difícil levar à prática aqueles valores sobre quem tanta malfeitoria causou. 

Genericamente quando nos deparamos com a tolerância, o apaziguamento e a boa vontade dos vencedores sobre os vencidos, mais cedo que tarde essa pacificação tenderá a que os vencidos reocupem os seus lugares e em muitos casos as velhas políticas, enquanto os vencedores, retrocedem nas suas conquistas. Estes valores que deveriam ser nobres a toda a humanidade, têm servido para as classes dominantes ganharem tempo e espaço para a sua reorganização. 
Foi assim em Portugal, é assim na África do Sul, por exemplo, sem por em causa a boa vontade dos capitães de Abril e de Mandela. 

Apesar de alguns avanços registados por esses povos, a verdade manda dizer que o poder passou a ser partilhado por uma elite de novos senhores originários da luta (que a traíram) e pelos antigos opressores, sobrando para o povo e as massas trabalhadoras pouco mais que votar de x em x tempo. Não admira portanto, que toda essa casta de velhos e novos burgueses se congratulem com os actos de tolerância e boa vontade (que eles não têm nem praticam, ver por exemplo o que se passou no Chile e o que se passa com Israel), porque sabem ser esse o caminho para retornarem ao poder, seja de forma clara ou camuflada. 

Não estou com isto a defender banhos de sangue. Antes, julgamentos sérios, rigorosos e justos de forma a condenar exemplarmente quem praticou ou apoiou actos de tortura e assassinatos. Isto sim, na minha modesta opinião, chama-se JUSTIÇA. Assassinos como Pieter Botha, Eugéne Terre Blanche ou Dirk Coetzee, na África do Sul ou o aparelho fascista e a sua polícia política, a Pide, em Portugal deveriam ter sido justamente condenados, e não toda a palhaçada a que assistimos de perdões, falta de prova, fugas, etc. 

Dir-me-ão que essa é toda a diferença entre os ditadores e os lutadores pela liberdade. Pode até ser. O certo é que aquele que alegadamente deu a outra face morreu crucificado e os seus algozes continuaram impunes e esse gesto, que saiba, não trouxe nada de positivo quer aos movimentos de libertação nacionais, quer mais amplamente à luta dos trabalhadores. Nalguns casos serviu apenas para as classes dominantes se travestirem de “democratas” e amantes da liberdade, mas que continuaram ou acentuaram a exploração ao mesmo tempo que vão impondo mundialmente as suas regras chegando ao ponto de quem as não aceitar será perseguido, bloqueado economicamente ou até bombardeado. 

Chamar-me-ão insensível, demagogo ou o que bem entenderem. Estão no vosso direito. Não sou um pensador nem tenho pretensões a isso, sou um simples trabalhador desempregado e isto é o que penso e sinto.

(Dez.2013  JLV)

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