Hoje a caminho do trabalho ouvi, na RDP África o Presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau dizer acertadamente que é necessário fazer um esforço para ultrapassar o que aconteceu no passado, para nos reconciliarmos verdadeiramente, “sem ajustes de contas” ou “caças às bruxas”.
E dei por mim a pensar sobre aquelas palavras. Ditas com convicção como aliás quase todos os autores políticos da Guiné- Bissau ao longo destes anos fazem quando falam da Paz e Estabilidade. E disse para mim:
“Se a verdadeira reconciliação fosse apenas uma questão de palavra tínhamos o assunto resolvido. Porque os discursos à volta deste tema são todos firmes, bonitos, entusiasmantes etc. Mas não”.
Entendo, modéstia à parte que o problema da reconciliação é mais complexo do que parece e exige mais do que simples palavras. Não envolve retórica, dinheiro, conferências, colóquios, projectos etc…É uma questão de vontade primeiramente individual, depois política, dos autores políticos para que nós, o povo nos sintamos bem representados e possamos ter a certeza que o interesse geral é o que move quem nos governa. Ultrapassar as divergências e procurar a reconciliação.
Espero que, quando se fala em reconciliação, o discurso seja dirigido, primeiramente aos autores políticos, a todos os órgãos de soberania com responsabilidades políticas, com responsabilidades pelo desígnio do País e com a responsabilidade de carregar um povo que deve ser o foco de atenção. A esses porque a verdadeira reconciliação deve vir de cima, o exemplo não deveria ser invertido. Até por uma questão de crença, motivação necessária.
Não nos peçam reconciliação porque nós, o povo, já mostramos que ultrapassámos o passado, pela nossa paciência e capacidade de perdoar vezes sem conta ao longo destes 40 anos.
Demonstrámos que não esquecemos tudo o que se passou mas pretendemos a Paz e Estabilidade e por isso ultrapassámos o passado.
Não esquecemos estes 40 anos de sucessivos adiamentos do desenvolvimento do país, mas perdoamos e mobilizamos por uma causa comum: o País. Exemplo disso foi a capacidade de mobilização para as ultimas eleições, a maturidade, o civismo, a tolerância demonstrada.
Não esquecemos estes últimos anos de vários recomeços mas ultrapassamos e abraçamos mais uma esperança e apoiamos os que entendemos que bem nos podem representar.
Reconciliação significa ultrapassar, perdoar mais do que esquecer. Mas a capacidade de perdoar, ultrapassar só acontece quando o geral é mais forte do que individual.
Quando o nosso orgulho não representa nada quando em causa estão pessoas e o país.
Mas só os verdadeiros patriotas promovem a Paz e Estabilidade. E esses estão escassos.
Só têm a capacidade de reconciliar e promover a Paz os que agem sem arrogância e orgulho exagerados. Os que sentem e com atitude lutam para aliviar a pobreza, os sacrifícios e sofrimentos do seu povo.
Os que o interesse geral está acima do seu interesse pessoal.
Os tolerantes e maleáveis nas palavras, os que promovem o diálogo e buscam consensos.
Por tudo isto e mais ainda, acreditar que possa existir algures por aí” Homens ” com vontade de promover a verdadeira e necessária reconciliação.
O povo ainda acredita. O povo tem paciência. Mas até a paciência tem limites.
Porque no fim Guiné- Bissau e seu povo 1º.
19/05/2015
Amélia Costa Injai (ACI)
Guineense
Gestora Bancária
Licenciada em Ciências da Comunicação e Cultura
Formação Gestão e liderança
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