O primeiro-ministro eleito da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, apelou hoje à comunidade internacional para que não deixe o seu país transformar-se num Estado falhado e controlado pelo narcotráfico, criticou os Estados Unidos por não lhes ajudar mais.
"O que eu me pergunto é porque não nos ajudam mais, com toda a boa vontade que mostrámos", disse o governante deposto, durante uma entrevista à agência de notícias espanhola EFE, criticando directamente os Estados Unidos da América.
"Faz mais de três anos que os EUA publicaram uma lista com as pessoas envolvidas nestas redes [de narcotráfico] em Bissau. Sabendo que somos um Estado frágil, por que não actuaram? Temos mais de oitenta ilhas que fazem parte do nosso território. É difícil, nas nossas condições, controlá-las", afirmou.
Para Gomes Júnior, o aumento do interesse dos narcotraficantes aconteceu no seguimento do aumento da vigilância dada a Cabo Verde, com a criação do Comando Militar Americano na África (Africom).
"Em 2011 recebi do comandante da Africom [a garantia de que] íamos ter mais apoio da sua parte, estava tudo garantido. Mas no final, os EUA decidiram tirar a sua embaixada de Bissau e instalaram-se em Dacar. É por isso que eu me questiono por que não nos ajudam mais", lembrou, defendeu que, desde que chegou ao poder, em 2009, a Guiné-Bissau deu sinais de melhoria e a comunidade internacional "começou a ver o país com outros olhos".
Os rivais políticos de Gomes Júnior acusam-no de actuar a favor de Angola, uma relação muito delicada na Guiné-Bissau, mas o antigo governante mantém a intenção de apresentar-se às eleições presidenciais inicialmente marcadas para 24 de Novembro, mas que têm sofrido sucessivos adiamentos.
"Se recebermos ajuda da comunidade internacional, vamos criar as condições para lutar contra o narcotráfico e os barões da droga, mas necessitamos de mais cooperação", disse.
Exilado em Lisboa após o golpe de Estado de 2012, que o afastou do cargo de primeiro-ministro, Gomes Júnior reconhece os múltiplos e graves problemas que o seu país enfrenta, e lamenta que a Guiné, um Estado "potencialmente rico", mas seja, na verdade, um dos mais pobres do mundo.
O último golpe de Estado aconteceu a 12 de Abril de 2012, quando militares guineenses prenderam o primeiro-ministro eleito, Carlos Gomes Júnior, e o Presidente interino, Raimundo Pereira, na véspera de começar a segunda volta das eleições presidenciais, nas quais Carlos Gomes Júnior tivera quase 50 por cento dos votos na primeira volta.
"Neste ano e meio, voltámos ao princípio e agora temos de recomeçar do zero", lamentou.
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