Na Guiné-Bissau, boa parte da população ainda
acredita que as doenças são transmitidas por algumas pessoas como forma
de vingança ou crime contra outras, explicou à Lusa o diretor nacional
da Polícia Judiciária, Armando Namontche.
As crenças em bruxaria são um obstáculo à prevenção da Cólera e prova
disso são as queixas que as autoridades ainda recebem "de vez em
quando", relatou o diretor.
Em Safim, localidade próxima da capital, Bissau, houve mesmo um
magistrado do Ministério Público que emitiu acusação e mandou para
julgamento uma pessoa suspeita de praticar feitiçaria contra outra,
recordou.
Na altura, há cerca de um ano, "foram abertos processos disciplinares
contra os magistrados" envolvidos, referiu Armando Namontche.
O caso já lá vai, mas ilustra uma realidade com que as autoridades
ainda são confrontadas e que levaram Namontche a participar em ações de
sensibilização para prevenção da Cólera, juntamente com o Ministério da
Saúde, no sul do país.
Numa das aldeias da região, uma antigo surto da doença atingiu mais
uma etnia do que outra e o facto foi usado na época como prova de que
aquela que estava imune estava a atacar a outra etnia, recorda um dos
técnicos de saúde no terreno.
Mais tarde, médicos verificaram que os grupos populacionais tinham
diferentes costumes de convivência, que ajudavam a travar ou propagar a
Cólera.
É neste contexto que o diretor da PJ ajuda a explicar à população que
as doenças não são "transmitidas por inimigos", que querem "matar
deliberadamente determinada pessoa", mas sim por falta de cuidados de
higiene ou tratamento de água.
"Tudo tem a ver com o baixo nível de escolaridade", pelo que os
esclarecimentos acabam por ser "uma medida preventiva", sublinhou.
Segundo Armando Namontche, a falta de informação é um problema que se
verifica "um pouco por todo o país: como magistrado assisti a muitos
casos de feitiçaria que não aceitámos".
"Temos de continuar a fazer este trabalho de sensibilização. É uma tarefa essencial", concluiu.
A epidemia de Cólera já atingiu 379 pessoas e fez 24 mortos desde
março, na Guiné-Bissau, afetando sobretudo a região de Tombali.
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