Ex-presidente do Timor palestrou na noite de segunda-feira no Fronteiras do Pensamento
(Prêmio Nobel da Paz integra missão da ONU na Guiné-Bissau e falou em Porto Alegre no Salão de Atos da Ufrgs
- Foto:
Lauro Alves / Agencia RBS)
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Blocos como a União Europeia e a União Africana são formados por
Estados, "mas desligados da realidade". A defesa de José Ramos-Horta,
herói da independência do Timor Leste e atual representante especial da
ONU na Guiné-Bissau, é de que os países da Comunidade de Países de
Língua Portuguesa formem uma efectiva comunidade, conhecida por todos os
seus habitantes e conectada às suas realidades.
O timorense falou na noite desta segunda-feira no Fronteiras do Pensamento, no Salão de Atos da UFRGS.
_ Proponho que a CPLP seja na verdade uma comunidade entendida por
todos os 300 milhões que oficialmente a constituem. Uma comunidade para
colocar em pé de igualdade os países falantes de língua portuguesa, e
para passar por cima de certo descaso da ONU com a situação difícil de
alguns dos países _ como a Guiné-Bissau, de cuja empreitada de paz
Ramos-Horta participa desde janeiro.
_ A missão em Guiné-Bissau é a indiada das Nações Unidas _ brincou.
E deixou claro seu método de trabalho ante a ONU: _ Faça mais, melhor
e com menos recursos. Ramos-Horta cita os exemplos das missões de paz
do Haiti e do Congo como dispendiosas e desatentas à questão da paz -
sua real razão de ser.
A falta de recursos e de atenção à questão da Guiné-Bissau, no
entanto, o assusta. Na conferência, o jurista foi crítico à capacidade
de intervenção dos organismos internacionais em países em crise. Para
ele, a ONU deixa conflitos se deteriorarem e só acorda quando a luta
chega ao ponto do caos. Foi o caso da Somália ou do Mali - assim como o
de Guiné-Bissau, país visto como porto do narcotráfico.
O povo depende economicamente da droga, a redemocratização é lenta e
dolorosa (eleições gerais estavam previstas para novembro, mas, segundo
ele, a realização provavelmente não será possível), E contou de sua luta
para financiar as caras eleições de Guiné-Bissau, cujo orçamento é
estimado em quase US$ 20 milhões de dólares. Nigéria e Costa do Marfim
ofereceram apoio, mas a CPLP nada fez. No entanto, os meios de
comunicação electrónicos trarão atenção à questão, confia Ramos-Horta,
assim como no caso do Timor Leste em 1990.
O Fronteiras Porto Alegre é apresentado pela Braskem e tem o
patrocínio de Unimed, Weinmann Laboratório, Santander, CPFL Energia,
Natura e Gerdau. Promoção Grupo RBS. O projeto conta com a UFRGS como
universidade parceira e com a parceria cultural de Unisinos, prefeitura
de Porto Alegre e governo do Estado.
(Fernanda Grabausk)
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