O secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, apelou hoje, em Macau, para um "recenseamento credível" na Guiné-Bissau, defendendo ser mais realista a realização de eleições gerais em 2014.
(foto: web) |
"Era irrealista ter eleições este ano, porque o processo de
recenseamento eleitoral ainda não começou", disse aos jornalistas, à
margem de uma tertúlia com membros da comunidade lusófona.
Na perspectiva do secretário executivo da CPLP, "o que é preciso é que
seja feito um recenseamento credível, que não provoque contestações em
termos de fraudes".
Murade Murargy comentava a proposta feita pelo Presidente de
transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, que na sexta-feira sugeriu
aos partidos com assento parlamentar que as eleições sejam adiadas para
23 de fevereiro ou 02 de março de 2014.
A Guiné-Bissau está a ser dirigida por um Presidente e um governo de
transição na sequência do golpe de Estado militar de 12 de abril de
2012.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)
determinou inicialmente que o período de transição devia terminar antes
do final deste ano. Calendário que, na opinião de Murargy, "era uma
forma de pressionar" as autoridades guineenses "para que não fiquem a
arrastar o processo indefinidamente".
Orçado no equivalente a 14,5 milhões de euros, todo o processo
eleitoral vai ser financiado pela comunidade internacional, cabendo a
maior fatia à CEDEAO.
Um orçamento que levou o representante especial da ONU para a
Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, a recorrer ao nome de uma marca de roupa
e acessórios de luxo para ironizar sobre a questão. "Com 20 milhões de
dólares têm de ser umas eleições Gucci", gracejou.
Trata-se de um "comentário pessoal dele que não tenho de comentar ou
criticar. Se ele disse isso tem as suas razões, ele encontra-se no
terreno, eu não estou lá", sustentou o secretário executivo da CPLP.
Murade Murargy considerou que o processo eleitoral deve ser "o menos
oneroso possível", acreditando ser possível fazer eleições com 13
milhões, tal como quem está no terreno - a União Africana, a CEDEAO e as
Nações Unidas.
Murargy, que participa, como convidado, pela primeira vez, nos
eventos do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e
os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), encontrou-se ao almoço
com o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Rui Duarte Barros, com o qual
combinou encontrar-se mais tarde "para falar mais um pouco" sobre este
assunto.
Sobre Moçambique - que vive o seu pior momento de tensão
político-militar após o Acordo Geral de Paz, assinado entre Governo e
Renamo em 1992 - o diplomata moçambicano não se quis alargar, dado que
se encontra em Macau o ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro
Baloi.
"O que sei ou posso dizer é que a situação está sob controlo e que o
povo moçambicano, como sempre, vai conseguir ultrapassar esta situação",
disse, indicando que "a CPLP ainda não foi chamada a intervir ou a
pronunciar-se".
Sobre o ato de vandalismo de que foi alvo a embaixada de Angola em Portugal, disse ser "condenável".
"Estive em Angola há duas semanas, conversei com as autoridades
angolanas [e] é evidente que é uma situação que eles acham que vai ser
ultrapassada. Agora isto o que aconteceu ontem (domingo) em Lisboa, não é
bom (...) São portugueses que o fizeram, sejam eles de que tendência
forem, sempre dá um mau sinal", porque, apontou, afinal de contas, "há
uma situação inamistosa".
O embaixador de Angola em Lisboa afastou qualquer relação entre o ato
de vandalismo de domingo contra o edifício da embaixada na capital
portuguesa e o estado actual das relações com Portugal.
"Vamos continuar a pensar no ato como um incidente, mas devemos estar
atentos para que situações do género não voltem a acontecer", disse
Marcos Barrica, citado hoje pela agência Angop.
(in:lusa)
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