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Joseph Pulitzer

terça-feira, 22 de julho de 2014

A CPLP e o futuro

Não vale a pena recordar as origens da CPLP nem a sua filosofia e propósitos de origem portuguesa, porque de facto foi o Brasil que a tornou viável e efectiva, com a intervenção brilhante e mal recompensada pelo destino, que o levou cedo de mais, e pelos factos da política imprevisível que não ajudaram a mantê-lo em posição de continuar como dinamizador.


Trata-se do embaixador José Aparecido de Oliveira. O mesmo aconteceria com o Instituto Internacional de Língua Portuguesa, que foi proposta portuguesa em colóquio organizado pelo Instituto Joaquim Nabuco, mas quem o tornou realidade, em curto prazo, foi Sarney, então presidente da República do Brasil. A intervenção criativa do Brasil foi sempre bem recebida, porque alinhava entre as grandes acarinhadas promessas de renovação no século em que estamos.

A brasilidade, na versão espalhada no mundo, e devendo muito a Gilberto Freyre, chamou a atenção da antropologia cultural para a criatividade da mistura das culturas europeia, ameríndia, africana, o que amortecia a memória dos sacrifícios da colonização não apenas lá, mas de norte a sul do continente, numa data em que o nazismo alemão envolvera o mundo, e o perseguido Stefan Zweig proclamava Le Brésil Terre d"Avenir (1941) pouco antes de decidir suicidar-se. As críticas que se desenvolveram em relação a Gilberto e à sua escola, em que se destaca o ilustre Fernando Henriques Cardoso, que parece não dispensar as reservas com que o incluiu no seu Pensadores que inventaram o Brasil (2013), mas também não se dispensou, quando presidente, de declarar o ano 2000 como Ano de Gilberto, nem implicaram que tal doutrina não fosse acolhida contra o racismo que caracterizou os crimes contra a humanidade, mesmo chamando a tal doutrina "a fábula das três raças", nem que ela se mantivesse como símbolo da identidade nacional, a favor da qual o pensamento de Gilberto continua a circular como uma bandeira, e ainda que a sua referência não viesse à lembrança dos numerosos casos em que a libertação dos povos pela descolonização a teve como paradigma no sentido de orientar o povo plural libertado para a fusão numa unidade nacional.

Acontece que a CPLP, que teve essa afirmada fábula nos seus alicerces, permitiu criar uma organização que não tem equivalente em qualquer das tentativas das restantes potências coloniais europeias de organizar para futuro uma solidariedade que não necessita de ignorar o passado, e teve não apenas a língua com os seus valores diferenciados pelas latitudes, mas também a maneira portuguesa de estar no mundo, como a diferença que permitia a sonhada unidade.

Este facto muda necessariamente de sentido quando um país como a Guiné Equatorial é admitida na organização sem corresponder aos fundamentos dela nem praticar os valores de futuro que a orientam, admitida portanto com fundamentos imprevisíveis. É um caso sem paralelo com a categoria de observadora que por exemplo assenta à Academia Galega da Língua Portuguesa, nem seguramente com o estatuto que deverão assumir as comunidades de origem portuguesa que são parte de Estados independentes e plurais, como a de Malaca, a da Califórnia ou da Nova Inglaterra, tal como não se descortina inconveniente para que os países da CPLP pertençam a outras organizações diferenciadas, como poderá ser a, se organizada, segurança do Atlântico Sul, uma condição exigente e indispensável para ultrapassar a anarquia em que se vive.

Mas o caso da Guiné Equatorial tem o significado não apenas de ferir a filosofia e a realidade da CPLP como de vir apoiada numa motivação que não pode deixar de ser lida, com alarme, de que é uma nova diferente conceção estratégica que desponta, a qual exige atenção diplomática e política não apenas quando à origem, que foi suficientemente determinante, mas quanto aos objectivos que a orientam, talvez de acordo com uma regra pouco recomendável, que é a de não ser a seta que procura o alvo, é o alvo que orienta a seta. Esse alvo não é seguramente o que foi devotada e trabalhosamente o que animou os esquecidos e devotados servidores do projecto, sem paralelo, da CPLP. 

P.s. do editor deste blog. Embora o autor deste trabalho o Dr. Prof. Adriano Moreira, tenha sido um homem do antigo regime, publico este texto porque lhe reconheço c/ respeitabilidade a sua honestidade intelectual e politica, enquanto homem das ciências politicas.

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