Guiné-Bissau
“Foco potencial de instabilidade” para a CEDEAO
Pesquisa e análise
1 . A CEDEAO considera a
Guiné-Bissau como principal “foco potencial de
instabilidade
regional”, depois da chamada “estabilização” do Mali. Em
conformidade, dispõe-se manter no país uma presença política e
militar, pelo menos até
à conclusão definitiva do processo de
reforma do sector de defesa e segurança.
Aspectos chave da presente
situação interna consideradas “potencialmente perigosas”:
Governação: a acção
governativa revela inépcia sistemática; a idoneidade dos
governantes está em contínua degradação; a população revela
“grande
saturação” e hostilidade em relação ao governo.
Forças Armadas: acentuaram-se, por efeito da pressão dos EUA sobre
António
Indjai (AM 785), as clivagens internas entre a oficialidade
implicada no
narcotráfico e a que se considera isenta;
proporcionalmente, aumentaram riscos
de convulsões internas.
PAIGC: atravessa um clima
de divisões internas capaz de, não sendo
convenientemente
resolvido, pôr em causa o seu papel de principal instituição de
carácter nacional.
As representações da
Nigéria e Costa do Marfim na CEDEAO são as que mais de
perto
acompanham a situação na Guiné-Bissau – o que também decorre do
facto de
serem os principais contribuintes das ajudas financeiras
que a organização presta ao
país, evitando assim o seu colapso.
O fio de informação e análise com base no qual o acompanhamento
da situação é
feito provém do comandante da ECOMIG, Cor Barro
Gnibanga, Burkina Faso, e do
representante político e diplomático
da organização em Bissau, Ansumane Cissé,
Gâmbia, bem como de
missões que periodicamente se deslocam ao país.
O presente mandato da
ECOMIG expira em 14.Mai.2014, mas formou-se um consenso
interno no
sentido de o estender até um momento em que se considere
“consolidado” o
processo de reforma do sector de defesa e
segurança (FA e Polícia), a iniciar
provavelmente depois das
próximas eleições.
.
2 . As transferências de
fundos com que a CEDEAO tem ajudado a minimizar o défice
crónico
das contas públicas (escassez de receitas), têm sido irregulares
ultimamente,
dando azo a evidências como um atraso de 2 meses no
pagamentos dos funcionários. O
Ecobank também reduziu
drasticamente o crédito ao Estado.
Através de mecanismos de
controlo considerados “intrusivos” a CEDEAO já reservara
a si
um papel chave na gestão dos fundos que punha à disposição do
governo. Ainda
assim, continuaram a verificar-se irregularidades na
execução, atribuídas a falta de
honestidade de governantes –
aplicados em beneficiarem-se individualmente.
A impressão que
existe na CEDEAO acerca do governo guineense é considerada “muito
negativa”. Os governantes são considerados incompetentes e vanais.
Revelam na sua
acção intuitos de corrupção considerados
“escandalosos”, entre os quais arrecadação ou
apropriação
privada de receitas do Estado (fiscais e aduaneiras).
A receita da
última campanha de cajú será a mais baixa de sempre – anulando
assim a
sua importância como principal fonte da economia.
Degradou-se o preço pago pelos
compradores indianos (em média Xof
150, contra Xof 500 em 2012) e as transacções
foram na sua maior
parte informais – privando o Estado de receitas.
O fornecimento de
energia e água à cidade de Bissau sofre crónicas perturbações.
O
governo não salda a
dívida acumulada à empresa pública distribuidora, a EAGB, nem
efectua previstas transferências compensatórias, privando-a assim
de meios para
proceder à aquisição de combustível para o
funcionamento dos geradores.
O presente empenhamento
da CEDEAO na Guiné-Bissau, apesar de nominalmente
justificado pelo
estado “caótico” do país, é encarado com algum cepticismo em
meios
da sociedade guineense que também o associam a escusas
intenções de países da região,
Nigéria e Costa do Marfim,
tendentes a fazer esbater ali “influências lusófonas”.
A recente apresentação
da candidatura de Paulo Gomes a Presidente da República foi conotada
nos mesmos meios com eventuais pretensões nigerianas. São-lhe
reconhecidas
antigas e especiais ligações à Nigéria, advindas da
sua passagem pela Nigéria como
quadro superior do Ecobank.
P Gomes, um quadro com
firmada reputação profissional (AM 663) apresentou-se como
candidato independente. Uma ala do PAIGC encabeçada por Manuel
Santos
“Manecas” defende que o partido deveria apoiá-lo. No
PAIGC estão a despontar outras
hipóteses de candidatura: p ex,
Luis Oliveira Sanca e Mário Cabral.
O BAO, até há ca 1 ano
principal banco comercial da Guiné-Bissau, então a passar por
fase
de crescimento, entrou agora em estagnação devido a condutas do
governo e da
CEDEAO favoráveis ao Ecobank. Há sinais de que lhe
quer ser retirada a gestão do
fundo de pensões das FA, que ganhou
em concurso público.
3 . O cenário da
ocorrência de novas perturbações internas nas FA potenciadoras de
instabilidade mais vasta, é considerado “admissível” devido a
tensões e lutas intestinas
que têm vindo a ser referenciadas na
instituição devido a factores como os seguintes:
- Receio de que o PRS, partido conotado com o golpe de 12.Abr.2012, assim como com o actual governo e a chefatura militar, venha a sofrer nas próximas eleições uma derrota que pela sua estimada extensão conduza a uma erosão das suas influências políticas e sociais, na sociedade, de efeitos nas FA – dominadas pela etnia balanta.
- A ideia generalizada de que o CEMGFA, Gen António Indjai, “não tem hipótese de escapar” à pressão exercida sobre ele pelos EUA, que o querem julgar sob a acusação de crimes de narco-terrorismo, deu lugar a realinhamentos internos, quase todos subreptícios; uma recente vaga de promoções na alta oficialidade agravou o ambiente.
4 . O PAIGC está, de
facto, a passar por uma fase de agitação, empolada pela
aproximação de um congresso electivo, 7/10.Nov. Entre os três
candidatos à liderança
do partido, Carlos Correia, Domingos
Simões Pereira e Braima Camará, estalou uma luta política em torno
do modelo de direcção do partido.
Entre as conjecturas
acerca do pós-congresso prevalecem duas, pela representatividade
das alas que as perfilham: o partido recuperará facilmente a sua
unidade, sem se expor a
riscos de cisões; o candidato eleito será
por uma margem estreita, dada a equivalência
entre os três, daí
decorrendo uma fragilidade que afectará o partido.
As eleições de
delegados ao congresso, operação actualmente em curso nos comités
regionais, têm sido mais favoráveis a B Camará. Ainda que, como se
prevê, venha a ser
eleito, julga-se que apresenta ‘handicaps’
em termos de estatura política e carisma que dificultarão a sua
liderança.
A hipótese de o PRS vir
a tirar partido de uma prolongada agitação no PAIGC, inclusive para
ganhar as eleições, é considerada remota. O PRS tem uma base de
apoio étnica, que tenderá a erodir devido à sua conotação com a
actual situação e a divisões entre grupos
balantas. São nulas as
hipóteses de compensar essas perdas fora da sua base de apoio.
(Xavier de Figueiredo
,
in: A.Monitor) 08-Out. 2013
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