Rádios guineenses pressionadas por emitirem discurso em que líder militar atacou Governo
Duas rádios da Guiné-Bissau foram
pressionadas depois de emitirem um discurso público em que o líder das
Forças Armadas, António Indjai, acusou o Governo de corrupção, denuncia o
Conselho Nacional de Comunicação Social.
O órgão da Assembleia Nacional Popular que zela pela liberdade de
imprensa e o direito à informação queixa-se da presença de "alguns
indivíduos nas instalações da Radiodifusão Nacional e da Rádio Jovem,
com o intuito de condicionar a difusão do registo sonoro", refere em
comunicado datado de quarta-feira.
Em causa estava "a intervenção do Chefe de Estado Maior General das
Forças Armadas", feita na segunda-feira durante um encontro dedicado aos
serviços de segurança guineenses, no Clube Militar de Bissau.
No discurso, António Indjai acusou o Governo de transição da
Guiné-Bissau de corrupção e pediu verbas para as forças de segurança e
militares, sob pena de haver instabilidade.
O Conselho Nacional de Comunicação Social diz-se "preocupado com a
situação" e refere que tomará "as providências necessárias com vista a
denunciar semelhantes práticas que configuram uma violação à liberdade
de imprensa".
No mesmo tom, Augusto Mário da Silva, vice-presidente da Liga
Guineense dos Direitos Humanos, disse hoje à Lusa que "não é tolerável a
intimidação de jornalistas no exercício da sua atividade" e que o
organismo já tomou diligências sobre o caso junto do Estado-Maior
General das Forças Armadas.
Em resposta, de acordo com o vice-presidente da liga, as chefias
militares "repudiaram" a visita às rádios, que classificaram como "um
ato isolado dos serviços de segurança do Estado" que não terá passado de
um "incidente".
O episódio acontece depois de o representante da Organização das
Nações Unidas (ONU) na Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, ter condenado os
interrogatórios a que autoridades policiais e militares têm sujeitado
algumas figuras públicas.
Num dos casos, Justino Sá, comentador da Rádio Bombolom FM, em
Bissau, foi interrogado em setembro pelos serviços de
contra-inteligência e levado a tribunal militar depois de ter criticado
as recentes promoções de oficiais.
O caso transitou para o Ministério Público, mas o chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas desistiu de apresentar queixa, disse à
Lusa o Procurador-Geral da República, Abdu Mané.
Mesmo que assim não fosse, o magistrado entende que "não haveria
crime", uma vez que o comentário de Justino Sá se enquadra no âmbito da
"liberdade de expressão".
(in:lusa)
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