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Joseph Pulitzer

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A. Cabral: "Resistência Económica" (VI - IX)



RESISTÊNCIA ECONÓMICA - Amílcar Cabral 

 
 
( VI )




......( texto sobre acontecimentos ou situação de guerra na época )..............;;

Devemos ao mesmo tempo tentar como vos disse, desenvolver cada dia mais respeito por aqueles que trabalham, e elevar bem alto o valor do trabalho, convencer os filhos da nossa terra de que o trabalho da terra não deve ser desprezado; pelo contrário, é o trabalho mais puro, mais são, de maior valor da nossa terra, hoje em dia. Infelizmente, na nossa cabeça de Africanos, ainda trabalhar é uma coisa que não vale muito, sobretudo então lavrar a terra, só tira coisas para comer, porque é trabalho de desgraçados. Mas nós temos de ser capazes, no quadro da nossa resistência económica, de fazer um trabalho político grande, para convencer o nosso povo, a nossa população, a cada um de nós, cada dia mais de que lavrar a terra, cultivar plantas, não é só para comer, mas para podermos ter muitos produtos para exportar, vender, transformar noutros produtos – é o trabalho mais importante, mais digno, mais elevado da nossa terra, seja na Guiné, seja em Cabo Verde, camaradas.

Temos que ser capazes, hoje, mas amanhã sobretudo no quadro da nossa resistência económica, de levar todas as camadas sociais da nossa terra a produzir cada vez mais e levar a cabo cada grupo étnico da Guiné, cada raça, como costumamos dizer, a multiplicar os produtos que produz. Não podemos permitir que uma etnia da nossa terra produza só arroz; tem que produzir arroz, milho, feijão, mancarra, etç, incluindo hortaliças e outras coisas mais, porque é preciso melhorar o nível alimentar do nosso povo. Toda a população da nossa terra pode produzir tudo e temos que fazer isso e desenvolver em todo o lado todos os tipos de cultura para melhorar o nível de produção do nosso povo. E, a pouco e pouco, temos que estimular, quer dizer, entusiasmar, dar coragem àqueles que têm mais valor, para produzirem cada vez mais. Devemos cultivar a nossa amizade, o nosso carinho, a nossa dedicação, para com alguns filhos da nossa terra que vemos que cultivam as suas bolanhas com entusiasmo, com dedicação e devemos levantar o seu nome bem alto, dá-los como exemplo a outros filhos da nossa terra.

Temos que estabelecer a pouco e pouco toda uma maneira de resolver o problema dos pequenos agricultores da nossa terra de amanhã, porque a nossa terra, pelo seu atraso, nem verdadeiramente pequenos agricultores chega a ter, na Guiné.

Em Cabo Verde o problema é diferente, porque os pequenos agricultores são muitos, não tanto como era de desejar, porque a maioria são rendeiros ou parceiros. O problema é fundamentalmente o de levar as pessoas a trabalharem juntas nessas condições. Na Guiné, a pouco e pouco, temos de ser capazes de criar cooperativas, aumentando, em primeiro lugar, a cooperação entre famílias, e procurando amanhã os melhores militantes para pegarem nas cooperativas em conjunto, para desenvolver o sistema cooperativo, que, quanto à nossa ideia, é o caminho mais curto para desenvolvermos a nossa agricultura e a nossa economia dentro da nossa terra amanhã.

E desde já devemos começar com experiências em relação a propriedades que eram do Estado colonial. Por isso o nosso Partido deu ordens para que aquelas granjas ou hortas deixadas pelo inimigo ou por aqueles que fugiram da guerra, na nossa terra, deviam ser dirigidas pelo nosso Partido mesmo, por Comités nomeados pelo Partido para os gerir. Devemos confessar que, na maioria dos casos, os nossos responsáveis, os nossos camaradas, não ligaram tanta importância como seria bom ligarem a esses trabalhos, a essas palavras de ordem do Partido e até hoje, de grande parte dessas granjas e hortas, não se tirou o rendimento que era possível tirar, nem as puseram nas condições que era preciso pôr. Algumas delas estão abandonadas, cheias de palha, as plantas desapareceram, estragaram-se, além, daquelas em que os próprios tugas vieram com as suas bombas, bombardearam, destruindo as nossas árvores de fruto e outras coisas que lá havia.

Temos que por claro na nossa cabeça, no quadro da nossa luta, qual é o aspecto principal da nossa resistência económica. No caso concreto da nossa terra, todos vocês sabem já, é a agricultura: não temos mais nada na nossa terra. É a agricultura hoje, agricultura amanhã e ainda agricultura talvez mais tarde. Desde já temos que fazer o máximo de esforço para avançarmos com a nossa agricultura, elevando a consciência política dos nossos camaradas agricultores, dos nossos patrícios lavradores, mostrando-lhes que o caminho da agricultura é o primeiro caminho para o avanço do nosso povo, desde já.
 
Mas também é o caminho que pode abrir ao nosso povo a oportunidade para desenvolver a industria amanhã, para criar uma situação de vida mais elevada, mas temos em primeiro que tirar o rendimento devido da nossa agricultura, que até hoje é uma agricultura atrasada no meio da nossa vida africana, agricultura simplesmente de subsistência, cada um produz apenas aquilo que é necessário para a sua família comer, agricultura sem poupança nenhuma, sem se poder guardar para amanhã, às vezes mesmo nem guardar o necessário para as sementeiras. E no quadro colonial a agricultura puramente para a economia de troca, com os tugas, explorando eles o nosso povo. Produzir mancarra, colher coconote, cera, mel, para trocar com os tugas ou vender o arroz da sua produção e é tudo. Come-se o dinheiro e todos ao anos, filhos da nossa terra, lavradores, em cada começo do ano estão na mesma situação de desgraça, não avançam nada. Esta é a característica da nossa agricultura.
 
 (Continua)
 
 
 
 
 
http://bissauresiste.blogspot.pt/2014/11/a-cabral-resistencia-economica-v-ix.html


 
 
 

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