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Joseph Pulitzer

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A. Cabral: "Resistência Económica" (II - IX)



                                               
RESISTÊNCIA ECONÓMICA – (Amílcar Cabral)

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(II)

“Toda a luta, como eu vos disse, e principalmente a nossa luta de libertação, tem dois aspectos que devem estar sempre juntos: temos de destruir o Estado português, temos que destruir as ideias política que os tugas colonialistas puseram na cabeça da nossa gente, temos que, mais longe ainda, destruir as concepções políticas erradas (ou ultrapassa-las já) que possam existir na cabeça da nossa gente, da nossa população, nas classes da nossa terra, nos grupos étnicos da nossa terra, e que podem ser prejudiciais para o avanço do nosso povo no caminho do progresso.
Temos que construir um Estado novo na nossa terra, baseado na liberdade do nosso povo, na democracia, no trabalho para o progresso. Temos de construir a consciência nacional do nosso povo, desenvolver cada dia mais a consciência política na nossa população, temos que construir todos os meios políticos, organismos políticos, organizações políticas necessárias para defender aquela conquista da nossa libertação nacional.

A resistência económica também é destruir, construir. O nosso objectivo na resistência económica é destruir a exploração do nosso povo pelos colonialistas portugueses. Quer dizer, a nossa luta desde o começo tinha que ser orientada no caminho de parar completamente com a exploração na nossa terra pelo regime colonial português. Sabemos que na nossa terra a exploração fazia-se principalmente através da compra quase forçada de produtos de agricultura do nosso povo na Guiné, e preços estabelecidos por comerciantes do estado colonialista. Principalmente através da obrigação de cultivar a mancarra na nossa terra, que era comprada por um preço estabelecido pelos tugas, explorando o nosso povo, a ponto de que, se fizermos cálculos económicos sérios em relação à cultura da mancarra, chegamos à conclusão de que é trabalho forçado. Porque uma família que cultiva uma superfície qualquer de mancarra, a mancarra que colhe, que vende, o dinheiro que recebe no fim, não chega para pagar um salário, mesmo baixo, às pessoas de família, durante um ano de trabalho.

Quer dizer, chegamos à conclusão, por exemplo, de que: a nossa gente trabalhava de graça para a casa Gouveia, Ultramarina e outros comerciante que compravam mancarra, porque o dinheiro que ganhava com essa mancarra, é certo que lhe dá para pagar o imposto de familia, para arranjar uns panos para a mulher, para comprar uma coisinha mais, mas se fizesse as contas como deve ser, na exploração agricula, vemos que isso não paga o preço do custo daquela mancarra, incluindo salários e outras despesas que se têm que fazer. Ora isto é que nós queremos destruir. Tínhamos que destruir isso, tínhamos que destruir essas relações de exploração económica dos colonialistas sobre o nosso povo. E tínhamos também que destruir outras bases de exploração económica, embora tenha tomado ares de administrativo, que é, por exemplo, o pagamento de impostos injustos e de vários tipos de imposto pelo nosso povo, ao Estado colonial português.

Em Cabo Verde, o nosso objectivo é destruir principalmente a exploração do nosso povo pelo regime de grandes propriedades que não dá terras ao nosso povo. O nosso povo tem que ser rendeiro, quer ele produza ou não, tem que pagar a renda, vivendo na miséria, submetido à fome e sujeito a ser até vendido ou contratado como trabalhador forçado para outras colónias. Devemos destruir isso.”

(Continua)

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